O Presidente da República, Daniel Francisco Chapo, abriu as portas do Palácio da Ponta Vermelha à sociedade civil feminina. Em audiência com uma delegação do Fórum Mulher, o Chefe de Estado ouviu as suas reivindicações: mais mulheres nas estruturas de decisão, lugar garantido no processo de diálogo pós-eleitoral e atenção redobrada à situação dos direitos humanos das mulheres em Moçambique.
Liderada por Rafa Valente Machava, presidente da organização, a delegação levou à Presidência da República um caderno de preocupações que, embora repetidamente exposto em conferências e seminários, raramente encontra espaço no palácio. Desta vez, porém, Machava classificou o encontro como “positivo, acolhedor e promissor”, sublinhando a abertura do Presidente para escutar as vozes femininas de todo o país.
“Pedimos este encontro porque tínhamos preocupações a expor e fomos bem recebidos”, declarou Machava, visivelmente cautelosa, mas assertiva. Segundo ela, o ambiente foi de escuta activa por parte do Chefe de Estado, que manifestou “confiança na capacidade das mulheres moçambicanas”.
No centro das exigências está a participação efectiva das mulheres no chamado “diálogo nacional”, sobretudo no contexto pós-eleitoral que o país atravessa. “Queremos ser parte, integrantes da inclusão na questão do diálogo pós-eleitoral”, disse a dirigente, advogando o sentimento de milhares de mulheres organizadas sob o Fórum.
O Presidente Chapo, segundo relacto da activista, acolheu com “entusiasmo e gratidão” as inquietações, mas sem assumir compromissos concretos sobre a inclusão formal das mulheres nos mecanismos de diálogo. Ainda assim, reconheceu, segundo Machava, que a presença feminina nos centros de decisão continua aquém do desejável.
“Não basta termos só a Primeira-Ministra, não basta ter só a Presidente da Assembleia da República. Precisamos de mais mulheres com legitimidade para estarem nos lugares de tomar decisão”, apontou a líder do Fórum, numa crítica implícita à superficialidade de uma representatividade meramente simbólica.
A activista foi mais longe ao lembrar que o país já conheceu tempos de maior equilíbrio de género no Governo. “Já tínhamos chegado a 50 por cento de ministras. E recuámos”, lamentou. A observação, incómoda para o poder político, foi reconhecida como legítima pelo Presidente, segundo a fonte.
Durante a audiência, o Fórum Mulher aproveitou também para lançar alertas sobre a deterioração das condições de vida das mulheres, com destaque para os direitos humanos. “A situação da mulher no geral não está bem, mas também não está o pior”, resumiu Machava, apontando para a invisibilidade das mulheres nos processos de resolução de conflitos. “Preocupa-nos que os nossos filhos se matem […]”, disse, numa clara alusão à violência que persiste no país, incluindo nas regiões afectadas por tensões armadas.
Fundado em 1993, o Fórum Mulher congrega organizações de todo o país que actuam nas áreas de justiça económica, igualdade de género, acesso a recursos, participação política e combate à violência baseada no género. A audiência com o Presidente Chapo marca, para a organização, um ponto de viragem no diálogo com o poder político — um gesto que precisa, no entanto, de ser traduzido em mudanças estruturais e não apenas simbólicas.
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