O Banco Comercial e de Investimentos (BCI) ofereceu, na passada quinta-feira (24), à Universidade Pedagógica de Maputo (UP-Maputo), exemplares da obra “Indústria Extractiva em África, Bênção ou Maldição”, da autoria do político, docente e escritor António Niquice.
Não foi apenas uma cerimónia simbólica de entrega de livros. Foi, sobretudo, uma reafirmação de um debate ainda por resolver: como é que Moçambique, e África, lida com a promessa e o peso dos seus recursos naturais?
Na presença do Reitor Jorge Ferrão, do Administrador do BCI Luís Aguiar e do próprio autor, António Niquice, a cerimónia serviu para recordar que a indústria extractiva africana não é apenas uma bênção anunciada. É, antes de tudo, uma disputa constante entre riqueza e desigualdade, entre soberania e concessões mal negociadas, entre desenvolvimento e destruição ambiental.
A obra, fruto de investigação profunda, mergulha em temas como os hidrocarbonetos, minerais e metais preciosos, revelando os impactos sociais e económicos dessa exploração em Moçambique e no continente africano. É uma leitura crítica, ancorada em evidência empírica, mas que exige e propõe uma nova ética na gestão da abundância.
O Administrador do BCI, Luís Aguiar, falou de compromisso com o saber. Sublinhou que, ao doar livros, o banco não faz apenas filantropia investe num capital imaterial essencial: o pensamento crítico.
“Os recursos naturais precisam de conhecimento e visão estratégica para se transformarem em oportunidades. Esta obra é um contributo valioso para essa transformação”, declarou Aguiar, num tom que resgata a academia como espaço de resistência intelectual e incubadora de políticas públicas fundamentadas.
Recordando a longa parceria entre o BCI e a UP-Maputo, Aguiar destacou que o banco tem apoiado a universidade não apenas com livros, mas também com equipamentos desportivos e incentivo à cultura, numa lógica de apoio transversal ao desenvolvimento do ensino superior.
Se há espaço onde a questão extractiva deve ser desmontada e reconstruída com seriedade, esse espaço é o universitário. É ali que se formam os futuros geólogos, engenheiros, juristas e economistas que vão negociar contratos, fiscalizar projectos e com sorte proteger os interesses colectivos.
A doação do BCI é um gesto que abre portas para esse debate. Mas o verdadeiro desafio é garantir que estas obras não fiquem confinadas às estantes do saber, mas transitem para as praças do poder, para os corredores ministeriais, para os cadernos de políticas públicas.
António Niquice, com esta obra, junta-se a um pequeno mas corajoso coro de moçambicanos que questiona, estuda e propõe outro modelo de exploração um que não trata o minério como maldição inevitável, nem como bênção cega, mas como instrumento de soberania económica.
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