Vi, não admirando, pela narrativa nada abonatória e até fora do trilho da verdade, a intervenção, em Quelimane, de V. Mondlane sobre o acontecido com o Mc Trufafa, Joel Amaral.
A pedir dinheiro para a família do Joel suportar os custos da sua estada no Hospital – disse, em público, perante uma multidão, o político e pastor. Será possível esta forma de pedinchar, sabendo-se que a saúde, em Moçambique, é gratuita? Gostava de recordar a Mondlane o que está escrito, a propósito: “Quanto à saúde, a Constituição Moçambicana (2004) consagra a todos os cidadãos o direito à assistência médica. Também assegura que todos os cidadãos gozam dos mesmos direitos, independentemente da cor, raça, sexo, origem étnica, local de nascimento, religião, nível de educação, posição social ou género”. Senhor Mondlane deixe-me dizer-lhe que lhe fica mal essa pedincha, junto de um povo que, na sua maioria, não tem dinheiro para comer…
Depois, todo o resto da intervenção VM, na rua, na proximidade de centenas e centenas de pessoas, é despropositada. Envolve Deus, chama-O para a berlinda de um caso da vida real e cavalga numa acção com uma linguagem sem tomar na devida conta que o povo a quem fala é iletrado, na sua esmagadora maioria, além de ingénuo e bom. Basta ouvir falar em Deus e esse povo fica na dúvida: se Ele é amor ou antes castigo ou e, ainda, um fazedor de milagres… Deus não é nada disso. É um Amigo a quem oramos, um Amigo que nos escuta, uma Divindade que nos apresentou um modelo salvífico…e dá-nos a maior liberdade para vivermos. Deus com o seu plano de Esperança, de Misericórdia, de Perdão e de Reconciliação convoca-nos a participarmos na onda da Paz e no Diálogo para reordenarmos e corporizarmos a sociedade em que vivemos de forma a uma convivência pacífica e ordeira.
- Mondlane continua a pretender certificar a sua ideologia para ascender ao púlpito governativo, trazendo a Bíblia debaixo do braço. Quer apresentar Deus, em qualquer das esquinas que atravessa, como sendo remédio (mitombo) para curar o mal dos homens e tentando ser o único porta-voz desse mesmo Deus. Está mal, caro pastor. Não percebeu que o Salvador não embarca nesse estilo de Vida, na sua perspectiva Dele errada? Entre a religião e a política a faísca é o resultado para se atearem grandes fogos…e se levar a multidão, em êxtase, sem tino, a cometer actos desagradáveis e desmandos em desvario.
Joel Amaral, conhecido por Mc Trufafa, é músico e autor de temas que mobilizaram apoiantes de Mondlane nas campanhas eleitorais para as autárquicas (2023) e depois para as presidenciais (2024), além de ser assessor de V. Mondlane.
A lesão não passou de um raspão ao nível do couro cabeludo. Não admito que um elemento da polícia da RPM – é o que se diz – faça um atentado do género para limpar a vida de quem é contra a Frelimo e o poder governativo. Mas ninguém, especialmente um responsável político moçambicano como o é V. Mondlane, poderá tirar partido de um caso que merece repúdio mas que não pode servir para, e uma vez mais, se criarem tumultos ou se lançar Moçambique em confrontos de e na rua.
António Barreiros, jornalista
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