Mavanza, Vilankulo – O Presidente da República, Daniel Chapo, lançou esta quinta-feira, na pacata comunidade de Mavanza, distrito de Vilankulo, aquele que é já considerado um dos mais ambiciosos empreendimentos industriais jamais projectados em território nacional, a Cidade Petroquímica Nacional. Com um investimento inicial de dois mil milhões de dólares norte-americanos, o projecto promete transformar a paisagem económica e social da província de Inhambane – e, com ela, o próprio mapa da industrialização moçambicana.
“É com muita satisfação que estamos, hoje, nesta comunidade de Mavanza […] para testemunhar um acto de grande significado para a província de Inhambane e para o nosso país”, declarou Chapo, perante uma assistência cuidadosamente mobilizada, num evento coreografado para sublinhar a magnitude do anúncio.
O projecto será implementado pela Phoenix International Group, a mesma firma que há duas semanas deu início à construção de seis mil apartamentos na Costa do Sol, em Maputo, numa ofensiva empresarial que parece cada vez mais alinhada com os interesses estratégicos do Governo. “Esta decisão mostra a confiança dos investidores estrangeiros para com Moçambique como destino seguro do investimento privado”, declarou o Chefe de Estado, num tom que pretendia reforçar a sua narrativa de estabilidade e abertura ao capital externo.
Segundo os dados apresentados, a futura cidade industrial contará com refinarias, centrais térmicas, unidades de produção de fertilizantes, amoníaco, ureia, cloro e plásticos, bem como uma zona residencial equipada com escolas, hospitais e centros comerciais. Um parque industrial completo, pensado sob medida para exportar a imagem de um Moçambique em plena viragem para o século XXI.
Chapo avançou que o projecto poderá criar mais de nove mil postos de trabalho – 4.300 directos e cerca de 5.000 indirectos –, além de enviar imediatamente cerca de cem jovens ao estrangeiro com bolsas de estudo, de modo a prepará-los para assumirem funções de chefia no novo empreendimento. “É uma transformação fenomenal esta que estamos a fazer”, disse, reforçando a ideia de que o projecto se insere numa visão presidencial de industrialização com rosto humano.
Com promessas de um impacto directo no Produto Interno Bruto estimado em 1.150 mil milhões de meticais, o estadista não poupou nas palavras: “Queremos construir mais estradas, mais hospitais, mais escolas, mais medicamentos para a nossa população, mais livros ‘mahala’, mais expansão de energia eléctrica, mais água para o nosso povo”, afirmou, numa lista que mais parecia retirada de um comício do partido no poder do que de um lançamento técnico-industrial.
Tal como é habitual, não faltou o apelo à paz, estabilidade e disciplina comunitária. Chapo louvou os residentes de Mavanza por se manterem alheios à onda nacional de protestos e manifestações pós-eleitorais. “Confirmámos que Inhambane ama a paz e é a verdadeira Terra de Boa Gente”, afirmou, amarrando a postura ordeira da comunidade à viabilidade do projecto.
Comentário Editorial:
No que pode ser visto como o arranque de uma nova etapa da política de megaempreendimentos em Moçambique, o Governo de Daniel Chapo joga alto ao ancorar o seu capital político em promessas de transformação industrial profunda. Contudo, o histórico nacional de grandes projectos com benefícios diluídos para as populações locais exige cautela. A retórica do Presidente parece querer preencher, de imediato, os vazios estruturais do país, mas permanece por saber se o impacto deste projecto será sentido para além dos indicadores macroeconómicos. Resta agora acompanhar, com lupa crítica, se a “Cidade Petroquímica Nacional” será uma realidade que transforma ou mais um monumento ao discurso do possível.
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