Ao concluir a sua primeira visita presidencial à província de Inhambane como Chefe de Estado, Daniel Chapo ofereceu ao país mais do que um balanço administrativo, apresentou uma nova gramática de governança onde se entrelaçam performance institucional, afecto político e promessa industrial. Em três dias de roteiro intensivo, o Presidente da República misturou discursos de continuidade com sinais de reinvenção, tendo como pano de fundo o lançamento do colossal projecto da Cidade Petroquímica Nacional, uma promessa de mais de 10 mil empregos e a industrialização como nova fronteira da esperança nacional.
A “marca Chapo” em construção
Do corte de fitas na cidade de Inhambane à inauguração de infraestruturas governamentais “geminadas”, Chapo começou por apostar num símbolo, racionalidade e modernização da máquina estatal. “Menos rendas, mais serviços”, parece ser a leitura que quis deixar ao cortar gastos públicos com arrendamentos, foco na eficiência administrativa.
Mas o verdadeiro conteúdo da sua mensagem foi revelado nas entrelinhas: o Presidente quer mostrar serviço, e depressa. “Poucas palavras, muita acção” uma frase que leva como novo lema presidencial e que coloca o seu estilo em contraste com a retórica frequentemente prolongada da era Nyusi.
A visita incluiu encontros com líderes locais, religiosos e administradores distritais. Nesses fóruns, Daniel Chapo escutou, ou pelo menos encenou escutar, os anseios dos vários estratos sociais. Com destaque para a juventude empreendedora, sobretudo mulheres, o Presidente investiu simbolicamente no capital humano feminino como motor da transformação. Um gesto politicamente carregado num mês de celebração da mulher e num país ainda marcado por desigualdades estruturais.
Em Massinga, distrito mais populoso da província, o comício de agradecimento tomou contornos quase espirituais: “paz, reconciliação, segurança, harmonia”. Se por um lado foi um gesto de gratidão política, por outro pareceu um esforço calculado para afastar os fantasmas das manifestações que ainda pairam em várias regiões do país.
O clímax da visita deu-se em Mavanza, Vilankulo, onde Chapo lançou o megaprojecto da Cidade Petroquímica Nacional, orçado em dois mil milhões de dólares e promovido pela enigmática Phoenix International Group, uma empresa que, curiosamente, tem multiplicado iniciativas estratégicas no país com ritmo e visibilidade compatíveis com campanhas políticas.
Mais do que um investimento, o projecto surge como um novo mito fundador, transformar Moçambique “numa referência na industrialização em África”. Com promessas de 4.500 empregos directos e 5.000 indirectos, uma terminal portuária e exportações de “sal vegetal”, a proposta é tecnicamente ousada, mas politicamente conveniente. Resta saber se não se trata de mais uma cidade fantasma em construção ou de um cavalo de Tróia financeiro que camufla interesses opacos.
A visita de Chapo a Inhambane funcionou como laboratório político da sua governação. Houve escuta, houve acção, houve anúncio. Mas também houve coreografia. A obsessão com números “acima dos 100 por cento” de cumprimento, a recorrente celebração da paz e o encorajamento à juventude revelam um Presidente empenhado em marcar uma nova etapa. Ainda assim, a prudência é necessária.
O histórico de megaprojectos em Moçambique está manchado por fracassos, opacidades e benefícios concentrados em elites. Para que a Cidade Petroquímica Nacional não se transforme noutra miragem, será essencial um acompanhamento público rigoroso, transparência contratual e inclusão efectiva das comunidades locais.
O discurso de Chapo é novo. As promessas são ambiciosas. A retórica está alinhada com o que o país precisa ouvir. Mas no fundo, como o próprio admitiu, “é tempo de acção”. E é isso que o povo moçambicano vai cobrar.
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