Sintonize a Rádio Chuabo – 103.0 FM

Chapo apela à paz e condena violência pós-eleitoral em Massinga

Data:

Guma, Inhambane – Num acto carregado de simbolismo político e apelo à coesão nacional, o Presidente da República, Daniel Chapo, reiterou esta quinta-feira, na localidade de Guma, distrito da Massinga, que a paz, o diálogo inclusivo e a reconciliação devem constituir a pedra angular do desenvolvimento de Moçambique.

Na recta final da sua visita de três dias à província de Inhambane, o Chefe de Estado procurou projectar uma imagem de estadista conciliador, insistindo que o país não pode ser refém da violência nem do discurso de ódio que, segundo as suas palavras, minam os alicerces de uma Nação plural.

“Decidimos que vamos fazer tudo por tudo para que haja paz em Moçambique, para o povo viver em paz”, proclamou Chapo, num comício popular marcado pelo libertar de dois pombos brancos, metáfora visual de um apelo que, embora reiterado, parece esbarrar com realidades que desafiam o próprio discurso presidencial.

Com os olhos postos no maior círculo eleitoral de Inhambane – onde obteve vantagem expressiva nas eleições de 9 de Outubro de 2024 –, Chapo fez questão de agradecer pelo voto de confiança, mas não fugiu ao tema espinhoso da contestação eleitoral que se seguiu. Condenou, com veemência, os episódios de violência pós-eleitoral e os danos a bens públicos e privados, chamando a atenção para o impacto destrutivo de tais acções. “Não se constrói um país com violência, com ódio”, sentenciou. “Em política não há inimigos, apenas há adversários”.

Numa aparente tentativa de responder a uma exigência social de justiça e reforma, o Presidente fez referência ao progresso do diálogo político com as forças da oposição e outros segmentos da sociedade, indicando que este já culminou na criação de um documento legal orientador do processo de reconciliação nacional.

“O discurso de ódio tem de acabar”, declarou, acrescentando que “o perdão, a paz e a unidade devem começar em casa, nas comunidades, nas escolas, e estender-se a todo o país”.

A par dos apelos à moralização da política e da sociedade, Chapo introduziu elementos de sua agenda económica, com a promessa da criação de um fundo específico para apoiar iniciativas locais, sobretudo envolvendo jovens e mulheres. O agro-processamento foi apontado como uma das áreas prioritárias, prevendo-se a abertura de novas linhas de financiamento.

O estadista aproveitou também para denunciar cobranças ilegais em unidades sanitárias, particularmente a parturientes, comprometendo-se a continuar a premiar os bons servidores públicos, ao mesmo tempo que reforçava a narrativa da “função pública ao serviço do povo”.

A população de Guma, por sua vez, não perdeu tempo em expor as feridas de um Estado ausente. Os pedidos variaram desde furos de água potável, melhoria das vias de acesso, expansão da rede eléctrica, até ao tratamento digno para antigos combatentes, cuja situação de pensões continua envolta em desigualdades e atrasos.

Chapo encerrou o comício com menção ao jubileu de ouro da independência nacional, marcado para 25 de Junho próximo, convidando os moçambicanos a celebrar a efeméride com entusiasmo. Referiu-se ainda à passagem da Chama da Unidade Nacional, actualmente no Niassa, como símbolo da caminhada colectiva rumo a um país que “vai desenvolver com paz, harmonia e segurança”.

Comentário Editorial: Se o discurso presidencial soou conciliador, não deixou, contudo, de tangenciar com a retórica habitual de promessas e de apelos morais. Fica por saber até que ponto o apelo à paz pode florescer em solos onde o Estado continua surdo às exigências mais básicas de justiça social e equidade. Paz não se proclama: constrói-se. E os discursos, por mais simbólicos que sejam, não substituem a acção transformadora esperada de um Presidente.

Autor

  • Jornal Txopela

    O Jornal Txopela é um dos principais órgãos de comunicação social independentes da província da Zambézia, em Moçambique. Fundado com o propósito de oferecer um jornalismo crítico e de investigação, o Txopela destaca-se pela sua abordagem incisiva na cobertura de temas políticos, sociais e económicos, dando voz às comunidades e promovendo o debate público.


Discover more from Jornal Txopela

Subscribe to get the latest posts sent to your email.

Jornal Txopela
Jornal Txopelahttps://txopela.com
O Jornal Txopela é um dos principais órgãos de comunicação social independentes da província da Zambézia, em Moçambique. Fundado com o propósito de oferecer um jornalismo crítico e de investigação, o Txopela destaca-se pela sua abordagem incisiva na cobertura de temas políticos, sociais e económicos, dando voz às comunidades e promovendo o debate público.
0 0 votes
Article Rating
Subscribe
Notify of
guest

0 Comentários
Oldest
Newest Most Voted
Inline Feedbacks
View all comments

Partilhar publicação:

Subscrever

PUB

spot_imgspot_imgspot_imgspot_img

Últimas

Relacionados
Relacionados

O tombo da esquerda portuguesa

Os resultados já apurados, na totalidade dos círculos eleitorais,...

Vice-presidente chinês apela empresariado dos EUA para fortalecer laços com a China

O vice-presidente da China, Han Zheng, instou a comunidade...

Juventude reclama lugar no processo de reconciliação nacional

Decorreu na cidade da Beira um debate sob o...

PR destaca papel do Banco de Moçambique na construção da soberania económica

  O Presidente da República, Daniel Chapo, afirmou recentemente que...

Para obter conteúdo completo, assine os serviços entrando em contato com a área comercial do Jornal Txopela - [email protected]
Todos os conteúdos do Jornal Txopela são protegidos por direitos autorais sob a legislação moçambicana.

0
Would love your thoughts, please comment.x