Guma, Inhambane – Num acto carregado de simbolismo político e apelo à coesão nacional, o Presidente da República, Daniel Chapo, reiterou esta quinta-feira, na localidade de Guma, distrito da Massinga, que a paz, o diálogo inclusivo e a reconciliação devem constituir a pedra angular do desenvolvimento de Moçambique.
Na recta final da sua visita de três dias à província de Inhambane, o Chefe de Estado procurou projectar uma imagem de estadista conciliador, insistindo que o país não pode ser refém da violência nem do discurso de ódio que, segundo as suas palavras, minam os alicerces de uma Nação plural.
“Decidimos que vamos fazer tudo por tudo para que haja paz em Moçambique, para o povo viver em paz”, proclamou Chapo, num comício popular marcado pelo libertar de dois pombos brancos, metáfora visual de um apelo que, embora reiterado, parece esbarrar com realidades que desafiam o próprio discurso presidencial.
Com os olhos postos no maior círculo eleitoral de Inhambane – onde obteve vantagem expressiva nas eleições de 9 de Outubro de 2024 –, Chapo fez questão de agradecer pelo voto de confiança, mas não fugiu ao tema espinhoso da contestação eleitoral que se seguiu. Condenou, com veemência, os episódios de violência pós-eleitoral e os danos a bens públicos e privados, chamando a atenção para o impacto destrutivo de tais acções. “Não se constrói um país com violência, com ódio”, sentenciou. “Em política não há inimigos, apenas há adversários”.
Numa aparente tentativa de responder a uma exigência social de justiça e reforma, o Presidente fez referência ao progresso do diálogo político com as forças da oposição e outros segmentos da sociedade, indicando que este já culminou na criação de um documento legal orientador do processo de reconciliação nacional.
“O discurso de ódio tem de acabar”, declarou, acrescentando que “o perdão, a paz e a unidade devem começar em casa, nas comunidades, nas escolas, e estender-se a todo o país”.
A par dos apelos à moralização da política e da sociedade, Chapo introduziu elementos de sua agenda económica, com a promessa da criação de um fundo específico para apoiar iniciativas locais, sobretudo envolvendo jovens e mulheres. O agro-processamento foi apontado como uma das áreas prioritárias, prevendo-se a abertura de novas linhas de financiamento.
O estadista aproveitou também para denunciar cobranças ilegais em unidades sanitárias, particularmente a parturientes, comprometendo-se a continuar a premiar os bons servidores públicos, ao mesmo tempo que reforçava a narrativa da “função pública ao serviço do povo”.
A população de Guma, por sua vez, não perdeu tempo em expor as feridas de um Estado ausente. Os pedidos variaram desde furos de água potável, melhoria das vias de acesso, expansão da rede eléctrica, até ao tratamento digno para antigos combatentes, cuja situação de pensões continua envolta em desigualdades e atrasos.
Chapo encerrou o comício com menção ao jubileu de ouro da independência nacional, marcado para 25 de Junho próximo, convidando os moçambicanos a celebrar a efeméride com entusiasmo. Referiu-se ainda à passagem da Chama da Unidade Nacional, actualmente no Niassa, como símbolo da caminhada colectiva rumo a um país que “vai desenvolver com paz, harmonia e segurança”.
Comentário Editorial: Se o discurso presidencial soou conciliador, não deixou, contudo, de tangenciar com a retórica habitual de promessas e de apelos morais. Fica por saber até que ponto o apelo à paz pode florescer em solos onde o Estado continua surdo às exigências mais básicas de justiça social e equidade. Paz não se proclama: constrói-se. E os discursos, por mais simbólicos que sejam, não substituem a acção transformadora esperada de um Presidente.
Discover more from Jornal Txopela
Subscribe to get the latest posts sent to your email.