O Governo moçambicano apresentou esta quarta-feira (9), na Assembleia da República, um novo pacote de promessas para o próximo ciclo de governação (2025–2029), jurando, mais uma vez, combater a pobreza, corrigir desigualdades e lançar as bases para a tão almejada “independência económica”. O anúncio foi feito pelo Ministro da Planificação e Desenvolvimento, Salim Crípton Valá, durante a sessão de Informações do Governo.
Com um discurso a roçar o déjà vu, Valá anunciou uma série de intenções que têm marcado os discursos de sucessivos executivos há décadas: mais produção, mais emprego, melhor infraestrutura, diversificação da economia e gestão racional dos recursos. No papel, uma revolução. Na prática, um ciclo de repetições onde os culpados pelos fracassos nunca são encontrados, mas os slogans são reciclados com entusiasmo.
“Vamos acelerar o crescimento económico inclusivo, diversificar a economia, criar empregos e modernizar infraestruturas”, prometeu Valá, ignorando que tais metas já foram repetidamente falhadas mesmo com programas anteriores como o PARPA, o PEDSA, os “sete milhões”, os distritos autossustentáveis e o quinquenal findo.
Segundo o governante, a prioridade do programa recai sobre sectores que, ironicamente, são hoje os mais degradados sob responsabilidade directa do Estado como a Agricultura, Pescas, Indústria, Educação, Saúde, Habitação, Recursos Minerais e Energia, entre outros. Curiosamente, estes são também os sectores onde, há décadas, o Governo promete “dar prioridade”.
No mesmo tom de promessa sem lastro, Valá explicou que os dois primeiros anos serão usados para “estabilizar social e economicamente o país”. Mas sem dizer de forma concreta o que será feito de diferente do que já falhou. “Vamos apostar na inovação tecnológica, paz e segurança, capital humano e infraestruturas resilientes”, afirmou, como se a mera enunciação fosse garantia de execução.
Sobre o custo de vida, o Executivo diz que pretende combatê-lo com “mais produção e produtividade”. Para isso, promete “capacitar pequenos produtores”, prover insumos e acesso ao mercado. No entanto, não explicou como fará isso num contexto onde programas como o Sustenta são acusados de exclusão, clientelismo e falta de transparência.
Ainda segundo Valá, haverá aposta em incubadoras, parques industriais e extensão agrária. Mas o Ministro ignorou deliberadamente o facto de que boa parte das zonas com maior potencial agrícola do país continuam sem estradas transitáveis, energia ou acesso a financiamento.
A oposição acusa o Governo de continuar a apresentar promessas sem sustentação, enquanto mantém uma arquitectura de governação centralizada, extractivista e clientelista que trava qualquer impulso de desenvolvimento autêntico.
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