Há coisas que só podem acontecer em Moçambique. Um país à beira do colapso social e económico, com a sua população a morrer à míngua e sem combustível para mover ambulâncias para salvar vidas ou mesmo medicamentos nos hospitais, mas ainda assim há dinheiro , muito dinheiro para carregar um pedaço de metal. Um fogo simbólico que, para todos os efeitos, não aquece a panela de ninguém.
Dizem que é a “Tocha da Unidade Nacional”. Mas como se constrói unidade quando o povo está espalhado entre trincheiras, deslocamentos forçados e filas de gasolina? Que tipo de unidade é esta, onde uns andam com tochas e os outros nem fósforos têm para acender um fogão para alimentar os seus filhos?
O Presidente Daniel Chapo e o seu governo preferem desfilar pelas estradas esburacadas do país com ares de celebração, enquanto em Cabo Delgado a guerra continua, em Sofala há ataques armados, e na Zambézia os naparamas voltaram à ribalta. O Estado, esse que deveria ser protector, aparece apenas para organizar cerimónias, cortar fitas e acender tochas. Mas quando o povo precisa de socorro, responde com silêncio, gás lacrimogéneo e assassinatos milimetricamente planificados.
Num país a viver uma crise severa de combustíveis, com camponeses a arrastar produtos agrícolas às costas, com professores a darem aulas sem salários condignos, membros da propria policia enfileirados nos agiotas o que justifica gastar milhões de meticais numa parada política mascarada de símbolo nacional?
É uma provocação. Uma bofetada à paciência popular. É mais um episódio de um governo que não tem noção do tempo nem do lugar onde se encontra. Está distraído ou simplesmente não quer saber.
O Presidente Daniel Chapo não herdou apenas a cadeira. Herdou também a responsabilidade de olhar este país com olhos de ver. Mas ao que tudo indica, está mais interessado em alimentar rituais do partido do que resolver os reais problemas da Nação.
A unidade que Moçambique precisa não vem da tocha. Vem da justiça social, da inclusão política e de um governo que tenha vergonha de brincar com a miséria alheia. Até lá, que carreguem a tocha… porque a vergonha, essa, já deixaram cair há muito.
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