Quelimane — O jornalista e analista político Luís Nhachote regressa às lides literárias com o lançamento da sua nova obra, “Do Alto da Colina”, um compêndio de crónicas escritas entre 2003 e 2005, que se propõe a fazer muito mais do que apenas remexer nas gavetas da memória: convoca o passado para iluminar o presente, e quem sabe, baralhar as certezas do futuro.
Com o lançamento agendado para o próximo dia 17 de Abril, na sede da Associação dos Escritores Moçambicanos, em Maputo, o livro é descrito pela editora Gala Gala como um “testemunho exemplar da capacidade da crónica transcender o efémero do quotidiano e inscrever-se na memória colectiva”. A obra, com pouco mais de 300 páginas, emerge como um registo pungente de um período que marcou uma viragem na história recente do país.
Nhachote, cuja pena é conhecida tanto pela subtileza quanto pela acidez, revisita temas que outrora incendiaram a esfera pública e que continuam, de forma inquietante, a assombrar o debate nacional: o julgamento do Caso BCM, as engrenagens subterrâneas do narcotráfico, a nebulosa influência das igrejas nas decisões políticas e sociais, e até o já clássico (e sempre polémico) debate sobre a “morte da literatura” em Moçambique.
O autor, que não se reconhece na etiqueta formal de “escritor”, surge nesta obra como um cronista sensível aos detalhes do seu tempo, atento aos silêncios que gritam mais do que os discursos, e profundamente enraizado nas contradições do seu povo. Entre a ironia fina e a lucidez rara, “Do Alto da Colina” posiciona-se como um exercício de memória crítica e resistência à amnésia colectiva.
Num país onde o arquivo das emoções e dos factos é tantas vezes sabotado pelo ruído do imediatismo, o gesto de Nhachote é, em si, um acto político. Lança o livro, mas o que realmente atira são interrogações. E fá-lo sem levantar a voz — apenas escreve. Como quem sussurra verdades desconfortáveis ao ouvido da história.
O livro estará disponível em livrarias seleccionadas a partir do dia do lançamento. Espera-se que, como as crónicas que lhe deram origem, também esta obra se transforme num espelho onde a sociedade moçambicana possa, mais uma vez, confrontar-se consigo mesma.
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