Um menor de apenas oito anos morreu soterrado em circunstâncias trágicas nas instalações da empresa mineira Africa Great Wall Mining Development, na província da Zambézia. A vítima foi surpreendida por um camião que, no âmbito da construção de um porto de carga, descarregava toneladas de areia ao longo do rio dos Bons Sinais.
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O episódio, ocorrido numa tarde em que várias crianças transformavam o estaleiro em campo de brincadeiras, deixou uma família em lágrimas e uma comunidade inteira em choque. “As crianças já se habituaram a entrar no recinto, porque não há barreiras nem vigilância. Se houvesse um muro, isto não teria acontecido”, lamentou um dos familiares.
Embora não tenha respondido formalmente à imprensa, a direção da Africa Great Wall Mining Development terá, segundo fontes próximas da família, prestado apoio imediato, disponibilizando valores monetários para custear o funeral do menor. Mas o gesto, ainda que de alívio momentâneo, não apaga a dor nem resolve a questão maior: a ausência de mecanismos de segurança eficazes em empreendimentos mineiros que se instalam em zonas habitadas.
Histórias que se repetem
Esta não é a primeira vez que a exploração de recursos minerais na Zambézia se cruza com a tragédia. Em anos recentes, relatos de acidentes envolvendo menores e jovens em zonas de mineração artesanal ou em áreas concessionadas a empresas têm-se multiplicado. Em 2018, por exemplo, três adolescentes perderam a vida na localidade de Pebane, depois de um deslizamento de areia numa mina explorada de forma precária. Em 2021, outro episódio sombrio ocorreu em Inhassunge, quando duas crianças foram arrastadas por águas contaminadas resultantes de escavações ilegais.
Apesar da gravidade, poucos destes casos chegam a merecer inquéritos públicos ou medidas regulatórias de impacto. A tendência tem sido de silenciamento ou de resolução pontual com apoios financeiros às famílias, deixando intactas as condições de risco que ameaçam as comunidades.
Desenvolvimento versus vulnerabilidade
O caso ocorrido ao longo do rio dos Bons Sinais expõe, mais uma vez, a contradição entre as promessas de progresso económico trazidas pelos megaprojetos e a realidade das populações locais. A construção de um porto de carga é apresentada como sinal de crescimento e oportunidade, mas para famílias vizinhas ao empreendimento, a proximidade traduz-se em vulnerabilidade.
Especialistas em direitos comunitários têm reiterado que as empresas devem não apenas respeitar normas ambientais, mas também salvaguardar a segurança das populações, sobretudo dos grupos mais frágeis — como crianças —, cujas vidas podem ser interrompidas por falhas evitáveis.
Vozes que clamam por mudança
A dor da família do menor soterrado soma-se a um clamor cada vez mais audível na Zambézia: a necessidade de responsabilização das empresas e de maior intervenção do Estado. Organizações da sociedade civil lembram que os contratos de concessão mineira preveem mecanismos de proteção social e ambiental que, na prática, raramente são cumpridos.
O silêncio da Africa Great Wall Mining Development perante os jornalistas contrasta com a dimensão humana do ocorrido. Enquanto isso, a comunidade continua a interrogar-se sobre quantas vidas precisarão ser perdidas até que a mineração, em vez de se confundir com luto, passe a ser sinónimo de desenvolvimento seguro e partilhado.
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