O recém-legalizado partido Anamola realizou esta terça-feira, 19 de Agosto, em Maputo, a sua primeira reunião da Comissão Executiva. O encontro, conduzido à porta fechada, culminou com a definição das linhas mestras para o arranque da agremiação — mas deixou também um rasto de dúvidas sobre até que ponto esta formação conseguirá imprimir novidade num cenário político historicamente dominado por duas forças principais.
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O porta-voz, Dinis Tivane, anunciou que o lançamento oficial do partido terá lugar a 20 de setembro, em Maputo, seguido do primeiro Conselho Nacional, nos dias 21 e 22 do mesmo mês. O calendário, aparentemente bem estruturado, procura transmitir organização e disciplina, mas o verdadeiro teste será a capacidade de mobilizar simpatizantes fora da bolha citadina da capital.
Na liderança provisória, o partido colocou o engenheiro Venâncio Mondlane à frente dos destinos da organização até à realização de um congresso. Trata-se de uma escolha previsível, polémica e carismática — mas assinalada pelo histórico de transições entre siglas, sem a consolidação de bases sólidas. Ao seu lado alinham-se figuras pouco familiares ao grande público: Alberto Manhique (Secretário-geral), Elsa Richua coadjuvada pelo renomado Mc Bandeira (Mobilização) e Graciete Vanessa (Finanças).
No desenho interno, a Anamola replicou a fórmula tradicional dos partidos moçambicanos, criando organizações sociais segmentadas por género e idade: AMA (mulheres), AJA (jovens) e Aliança de Ouro (séniores). A inspiração nas estruturas da Frelimo é evidente — levanta-se, porém, a pergunta: escapará a Anamola da sombra do mimetismo institucional ou ficará condenada a repetir velhas fórmulas com nova etiqueta?
Outro ponto anunciado foi a criação de um sistema electrónico de adesão de membros, cuja fase piloto arranca ainda este mês. A medida soa moderna e pode representar inovação num país onde, tradicionalmente, a burocracia partidária é encadeada por processos manuais e opacidades. Contudo, essa inovação contrasta com uma realidade dura—grande parte da população permanece analógica, à margem das tecnologias de informação. Segundo dados recentes, apenas cerca de 19,8% da população tem acesso à internet, o que implica que 80,2% — cerca de 24 milhões de pessoas — permanecem desconectadas (de acordo com a Global Digital Insihgts).
Esta exclusão é ainda mais dramática nas zonas rurais e entre mulheres: em áreas urbanas, apenas 38% das mulheres e 59% dos homens acedem à internet, mas no meio rural esses valores caem para 9% e 15%, respetivamente. Portanto, um sistema digital de filiação pode variar entre inovação e exclusão, dependendo das condições de acesso dos cidadãos — que em muitos casos não poderão sequer aceder ao sistema, quanto mais utilizá-lo com eficácia.
Ao final da reunião, o discurso transmitiu entusiasmo e a promessa de transformação social. Mas, no terreno político moçambicano, sentimento e retórica nunca foram sinónimo de sustentabilidade. A prova de fogo será no próximo mês: será o acto público de 20 de setembro um verdadeiro reflexo de mobilização inclusiva, ou apenas mais um capítulo no longo histórico de siglas que entram com força e se esfumam em silêncio?
O contraste entre a fachada tecnológica do sistema online e a realidade de exclusão digital evidencia um ponto central: um partido que se queira verdadeiramente transformador deverá acompanhar essa estrutura moderna com alternativas analógicas — garantindo que todos tenham voz, presença e pertença.
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