Em Tete, Changara e Moatize, distritos marcados por índices elevados de uniões prematuras, gravidezes precoces e violência de género, uma iniciativa local começa a produzir mudanças estruturais. O Projecto Tsogolo Tsicana (Avança Rapariga), financiado pelo Governo da Flanders e implementado pela ADPP Moçambique em consórcio com a GCR, tem vindo a oferecer a raparigas adolescentes e mães jovens mais do que serviços — está a abrir espaço para escolhas.
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A intervenção assenta num modelo integrado que liga comunidade, escola e serviços de saúde, envolvendo mentoras, navegadoras, professores, líderes comunitários e profissionais de saúde. O objectivo é reforçar quatro pilares: acesso à educação, saúde sexual e reprodutiva, autonomia económica e protecção contra a violência.
Os números mostram o alcance. Entre 2023 e 2025, mais de 9.000 raparigas foram encaminhadas para os Serviços de Saúde Amigos dos Adolescentes e Jovens (SAAJ), representando 21% de todos os atendimentos juvenis nas unidades apoiadas. Esta articulação resultou numa redução de 15% nas gravidezes precoces nos distritos-alvo.
Na componente de Violência Baseada no Género (VBG), 415 casos foram identificados e quase metade solucionados. Lideranças comunitárias intervieram activamente em 38% dos casos resolvidos, provando que a resposta ganha força quando a comunidade se apropria do problema.
Na educação, o impacto foi visível: mais de 50 raparigas regressaram à escola com apoio directo do projecto e houve uma redução de 25% nas desistências escolares nas escolas abrangidas, em comparação com o ano anterior.
No combate ao HIV, mais de 7.000 raparigas passaram a conhecer o seu estado serológico, enquanto 196 jovens vivendo com HIV participam nos grupos TRIO — uma abordagem de apoio entre pares para garantir adesão ao tratamento antirretroviral.
O fortalecimento económico é outra vertente crítica. 83 grupos de poupança criados no âmbito do projecto acumularam mais de 15 mil dólares em três anos. Para 659 mães jovens, este capital inicial foi decisivo para iniciar actividades geradoras de rendimento. Sónia Arnaldo, de Changara, investiu na produção e venda de perucas, voltou à escola e hoje contribui para o orçamento doméstico.
Histórias como a de Antónia Beca, navegadora comunitária em Moatize, ou da professora Ângela João, cuja escola já não regista desistências, revelam que a transformação não é abstracta — é mensurável e vivida no quotidiano.
Ainda assim, persistem desafios. A enfermeira Maria Fernando, ponto focal dos SAAJ no Centro de Saúde da CFM em Moatize, alerta para a falta de insumos. Num país onde 90% dos serviços de saúde dependem de doadores internacionais, a manutenção dos resultados exige soluções locais sustentáveis.
O médico-chefe de Changara, Isac Maposse, fala em “mudança de atitude entre os jovens” e aponta reduções de até 15% nas uniões prematuras em zonas remotas desde 2023.
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