Uma análise recente do Observatório do Meio Rural (OMR) revela que as elites políticas e económicas moçambicanas mantêm uma linha de continuidade histórica que remonta ao período pré-colonial. O estudo, intitulado “Das Elites ‘Tradicionais’ às ‘Modernas’ em Moçambique”, foi publicado na edição nº 341 do Destaque Rural, datado de 5 de Agosto de 2025, e assinado por João Mosca, coordenador do Conselho Técnico do OMR.
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Segundo o documento, apesar da subordinação às potências estrangeiras durante o período colonial, as elites locais tradicionais adaptaram-se para manter o controlo sobre o poder. A modernização dessas elites não significou, porém, o abandono de valores, práticas e comportamentos herdados das sociedades tradicionais. A educação destacou-se como um dos principais meios de transição e consolidação de uma elite dirigente com traços “modernos”, mas cujas estratégias de perpetuação do poder permanecem inalteradas.
Desde os primeiros contactos com forças externas — militares ou económicas —, as elites internas beneficiaram-se através do comércio, da escravatura e, mais tarde, pela formação de uma pequena burguesia burocrática e económica. A viragem do século XX acentuou esta tendência, com o Estado a ser instrumentalizado como principal canal de redistribuição de recursos, consolidando um empresariado dependente de protecção política, lóbis e favores governamentais. Trata-se, na visão do estudo, de um tecido empresarial fragilizado, desprovido de cultura de ética e competitividade.
A análise não poupa críticas ao papel da violência como mecanismo recorrente de conquista e manutenção do poder — uma prática herdada de sistemas tradicionais de chefatura, como o império de Gaza, perpetuada pelo colonialismo e hoje visível em diversas manifestações da elite governante. João Mosca caracteriza a elite política actual como “cega e surda”, focada no enriquecimento pessoal e na preservação de privilégios, mesmo à custa da repressão.
Num cenário onde cresce uma juventude urbana que exige oportunidades de emprego, melhores condições de saúde e educação, e que se insurge contra a corrupção e as desigualdades, o estudo adverte para a fragilidade do actual modelo de governação. Em síntese, o documento traça um retrato de uma elite que, embora adaptada aos tempos modernos, conserva mecanismos de exclusão e dominação herdados do passado.
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