Por Luís de Figueiredo
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Apesar do tom conciliador do recém-eleito Secretário-Geral da Organização da Juventude Moçambicana (OJM), Constantino André, a cerimónia de passagem de pastas ocorrida esta semana em Maputo evidencia um padrão cada vez mais difícil de ignorar: a instrumentalização da juventude partidária da Frelimo em prol de interesses elitistas, práticas clientelistas e promoção de carreiras por afinidade política – o chamado “lambebotismo”.
Num discurso marcado por promessas de inclusão e respeito à diversidade, Constantino André tenta afastar a OJM da imagem de ser uma organização capturada por elites e grupinhos privilegiados, como alertou o próprio presidente da Frelimo, Daniel Chapo, durante a VII Conferência Nacional da juventude partidária. Porém, na prática, o cenário que se desenha aponta para a continuidade de uma estrutura política cada vez mais impermeável à meritocracia, e dominada por redes de lealdade pessoal e troca de favores.
A nomeação recente do ex-Secretário-Geral da OJM, Silva Livone, para o cargo de Secretário de Estado na província do Niassa, levanta sérias questões sobre o uso da organização juvenil como trampolim político. A prática recorrente de premiar quadros jovens com nomeações governamentais, sem clara prestação de contas ou mérito técnico transparente, tem sido denunciada por membros descontentes da própria Frelimo como reflexo de um sistema de promoção baseado no alinhamento político incondicional – um dos sintomas mais visíveis do amiguismo e da decadência institucional da juventude do partido no poder.
Durante a cerimónia de entrega de pastas, Livone alertou o seu sucessor sobre as pressões internas para violar normas estatutárias: “Há muitos camaradas que gostam de violar as normas. Vão pedir coisas que não se podem fazer”, afirmou. A advertência, ainda que subtil, parece ser um reconhecimento implícito da corrupção interna e das dificuldades de resistir aos esquemas de influência e manipulação dentro da estrutura da OJM.
Enquanto o novo Secretário-Geral reforça a retórica de combate à exclusão e promoção da independência económica – alinhando-se fielmente à “agenda e visão” do Presidente Chapo – vozes críticas apontam para a crescente desconexão entre o discurso oficial e a realidade das bases juvenis. A maioria dos jovens moçambicanos enfrenta desemprego crónico, exclusão das oportunidades de formação, e falta de acesso a crédito ou recursos para empreender. Em vez de servir como plataforma de mobilização autêntica e de representação das aspirações juvenis, a OJM tem funcionado, segundo analistas, como uma extensão do aparelho partidário – uma escola de obediência política e não de cidadania.
Para muitos observadores, a ascensão de Constantino André representa mais uma oportunidade perdida de renovar verdadeiramente a OJM e abrir espaço para vozes independentes e críticas dentro da juventude moçambicana. O risco, como tem sido reiterado por académicos e activistas sociais, é que a organização se afunde cada vez mais numa lógica de reprodução de poder, onde o acesso a cargos não depende da visão, competência ou integridade, mas sim da habilidade de agradar aos chefes, cultivar padrinhos políticos e seguir ordens sem questionamento.
A promessa de “resgatar os valores fundacionais” da OJM soa, para muitos jovens desiludidos, como mais um slogan vazio num partido que tem normalizado o clientelismo e ignorado a pluralidade de pensamento em suas fileiras juvenis. A juventude moçambicana merece mais do que um órgão partidário capturado. Merece liderança com coragem de ruptura, não comedida fidelidade ao statu quo
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