Quem tem legitimidade para o uso de armas em Moçambique são as Forças de Defesa e Segurança (FDS). No entanto, desde a independência, vemos agentes da polícia a circular armados com armas de guerra nas vias públicas, algo que merece profunda reflexão. Afinal, porquê essa exibição permanente de poder bélico? Já passou da hora de repensar até a presença de armas no próprio símbolo nacional.
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A cada dia assistimos a casos de raptos, crimes armados, baleamentos — muitos deles em plena luz do dia, nas ruas movimentadas das nossas cidades, onde circulam crianças, idosos, mulheres e homens trabalhadores. Infelizmente, as câmaras de vigilância e os serviços de inteligência não parecem ser suficientes para travar esta onda de terror. E, invariavelmente, os porta-vozes da polícia repetem o refrão: “os autores são desconhecidos”, enquanto prometem investigações sem resultados concretos. Até quando?
Esses acontecimentos não só mancham a imagem do país, como também afastam potenciais investidores e comprometem a reputação do próprio Presidente Chapo. Quando agentes do Estado são mortos a tiro — como recentemente sucedeu na Matola, onde dois agentes (um da PRM e outro do SERNIC) foram abatidos com 54 tiros — levanta-se a questão: quem está a perder o controlo do uso das armas? Por que matar polícias? Que mensagem se quer passar?
É igualmente preocupante ver, nas redes sociais, cidadãos a celebrar a morte de agentes. Isso está errado. Os polícias também são filhos de alguém, nossos filhos, pais de alguém, trabalhadores que cumprem ordens. Não podemos esquecer que, muitas vezes, esses agentes apenas executam orientações superiores — erradas ou certas. Por isso, é essencial recordar: as FDS são do Estado, não de um partido.
Pergunto: estará alguém a “apagar arquivos”? É inquietante que, pouco tempo depois de outro baleamento mortal envolvendo um agente da Unidade de Intervenção Rápida em Nkobe, surja este novo caso na Matola. Está a tornar-se “moda” resolver tudo à bala?
Na minha opinião, o uso de armas pesadas como a AKM deveria ser restrito a situações de conflito armado, como em Cabo Delgado, e não banalizado no patrulhamento diário das cidades. Quem quiser empunhar armas para defender o país que vá para as zonas de conflito — não para aterrorizar cidadãos indefesos nas ruas. Atirar mais de 50 balas contra duas pessoas à luz do dia, sem medo de testemunhas, só pode ser classificado como crime organizado. É o espírito de Caim que matou Abel, por inveja e ódio.
É urgente que as autoridades, incluindo o Presidente da República como Comandante-Chefe, façam uma limpeza profunda neste sistema. O controlo rigoroso do armamento e da conduta das FDS deve ser prioridade. Caso contrário, quem hoje serve ao poder, amanhã pode virar o disco e tornar-se um carrasco.
O presidente Chapo tem uma oportunidade histórica. Se conseguir resolver estes casos, ganhará ainda mais confiança do povo, porque Moçambique precisa de paz verdadeira e duradoura — sem esquadrões da morte, sem execuções sumárias, sem medo.
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