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O risco de um golpe de Estado travestido de confusão – Uma teoria de conspiração que faz sentido, Zito Ossumane

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Desta vez, a capital política de Moçambique está a ser testada por um novo fenómeno que, para muitos, parecia enterrado nos escombros da Guerra Civil, homens de guerra, antigos guerrilheiros da Renamo, altamente treinados, organizados, mobilizados e furiosos, acampam na sede nacional do partido, e exigem a cabeça de Ossufo Momade.

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Parece apenas mais um episódio de insatisfação interna, comum em formações políticas com historial militar. Mas como jornalista e activista político, e recorrendo a ferramentas da análise política, da ciência militar e da contra-inteligência, lanço aqui uma provocação reflexiva: E se isto for uma manobra deliberada de Ossufo Momade para criar o pretexto perfeito para avançar para a Ponta Vermelha?

É apenas uma teoria de conspiração. Mas, como diria um velho oficial de inteligência: não ignoramos conspirações que fazem sentido, ignoramos apenas as que são mal feitas.

Porque esta mobilização é suspeita?

A narrativa é sedutora: veteranos da Renamo, esquecidos e abandonados pelo seu próprio partido, marcham para exigir justiça e mudanças na liderança. Mas há buracos nesta história.

  1. Quem financiou a viagem nacional de homens pobres, oriundos do Niassa, Cabo Delgado, Zambézia, Sofala, Gaza e Inhambane até Maputo? Não se move uma estrutura assim sem financiamento, logística e permissividade institucional. Com o habitual controlo governamental sobre transportes interprovinciais, nenhuma movimentação desta magnitude acontece sem que seja notada ou permitida.
  2. Porque escolher a sede da Renamo, num momento em que o partido está fragilizado e o seu líder politicamente encurralado? Ossufo não enfrenta apenas críticas internas, mas também pressão da opinião pública nacional pela sua inércia, especialmente após os resultados eleitorais de 2024. Nada melhor do que uma ameaça fantasma para unir a base e justificar uma resposta musculada.

Do ponto de vista do Realismo Político, crises internas podem ser capitalizadas por líderes autoritários para reforçar o seu poder. Criar uma ameaça à liderança e, em seguida, apresentar-se como a única solução para neutralizá-la é uma manobra clássica. Se Momade conseguir desmobilizar ou conter estes veteranos “rebeldes”, poderá reaparecer como herói, pacificador, “o único que ainda consegue falar com os comandos”.

Mas este país tem instituições frágeis, lideranças partidárias centralizadas e uma memória colectiva marcada por traumas armados, a manipulação simbólica da guerra e da paz continua a ser moeda de alto valor político.

O risco de um golpe travestido de confusão

A presença de homens treinados em combate irregular, concentrados num só ponto da capital, sem supervisão estatal adequada, configura um risco operacional crítico para a segurança nacional. Estes homens conhecem estratégias de emboscada, controle territorial e desestabilização urbana. São veteranos de embates diretos com as FADM, conhecem as fraquezas da máquina militar moçambicana e os atalhos dos seus medos.

Uma acção armada mal contida, mesmo espontânea, pode criar o caos necessário para um estado de emergência que pode ser usado por qualquer facção política ou militar para justificar medidas de força. E se Ossufo estiver apenas a preparar o terreno para exigir o controlo da narrativa nacional?

Onde estão os serviços de inteligência do Estado? Estão a acompanhar esta mobilização com a devida seriedade? Ou estão, como tantas vezes, presos na teia da complacência partidária?

Se há risco iminente de acção subversiva ou mesmo de uma operação psicológica de grandes proporções, a omissão dos serviços estratégicos do país é em si um acto de negligência.

Teoria, sim. Mas não estúpida.

Ninguém aqui está a afirmar que Ossufo Momade vai marchar para a presidência da República ou que estes desmobilizados estão armados até os dentes. Mas os factos colocados em sequência desenham um cenário que merece atenção profunda.

Se for uma jogada do líder da Renamo, é ousada, perigosa e provavelmente suicida. Se for espontânea, é ainda mais alarmante. O país não pode continuar a tratar sinais de alarme como ruídos de fundo.

Como jornalista e cidadão, deixo aqui o apelo, o Estado moçambicano precisa agir com sabedoria e vigilância. E os que amam a paz, devem lembrar: quem não escuta os veteranos, pode acordar com seus fantasmas armados.


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Zito do Rosário Ossumanehttps://txopela.com/
Zito do Rosário Ossumane é um jornalista investigativo, empreendedor da comunicação e activista político moçambicano. Fundador e diretor do Jornal Txopela, consolidou a sua trajetória na luta pela liberdade de imprensa, transparência e defesa dos direitos humanos em Moçambique. Actualmente Presidente o Misa na Zambezia
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