Há muito que a Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA) deixou de ser apenas um fórum de empresários para se transformar numa das trincheiras mais férteis de poder e influência no país. A corrida à presidência da CTA, hoje marcada por escândalos de suborno, guerras de bastidores e manobras kafkianas, revela que o cargo deixou de ser meramente representativo. Ele é, na verdade, um atalho para o centro do sistema económico, político e até partidário.
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Nos últimos dias, relactos de que candidatos terão desembolsado milhões de meticais em “amortizações de dívidas” a associações para obter apoio eleitoral, apenas reforçam uma suspeita antiga, de que o que está em disputa não é a defesa dos interesses empresariais, mas o controle de um instrumento estratégico de influência e enriquecimento. E se há dúvidas, basta seguir o trilho dos que por lá passaram.
CTA: mais do que uma confederação, um balcão privilegiado
Formalmente, a CTA é a “voz do sector privado” no diálogo com o Governo. Mas na prática, é muito mais. O seu presidente participa de encontros com ministros, chefes de Estado, missões diplomáticas e agências de financiamento internacional. A cadeira da CTA não só oferece visibilidade pública como abre portas para moldar leis, interferir em reformas económicas e, claro, influenciar adjudicações e concessões.
Num país onde o empresariado está perigosamente entrelaçado com a elite política, presidir à CTA é ter acesso a informações privilegiadas e oportunidades de negócio antes mesmo de estas chegarem à praça pública. É ser a primeira linha nos contactos com a Frelimo, com o Executivo, com investidores estrangeiros e instituições multilaterais.
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Os ganhos que não vêm no papel
Há um padrão recorrente, os presidentes da CTA não saem pobres do cargo. Pelo contrário. Alguns multiplicam empresas, outros ganham nomeações em fóruns regionais e internacionais. Veja-se Rogério Manuel, homem forte do sector de transportes, que na CTA montou a Federação dos Transportadores Rodoviários e, ao sair, consolidava investimentos na aviação. No seu funeral, esteve presente o Presidente da República – não como amigo, mas como reconhecimento institucional de quem soube jogar nas duas arenas: negócios e política.
Agostinho Vuma, engenheiro e empresário da construção, é outro exemplo. Enquanto presidia a CTA, ascendia também à presidência do Conselho Empresarial da SADC, uma plataforma com influência além-fronteiras. Coincidência? Não. O cargo serve como catapulta para cargos ainda mais lucrativos e redes de contactos que, num país de economia concentrada, valem mais do que qualquer linha de crédito.
O que vemos nesta eleição, onde se fala de subornos a mais de trinta associações e pagamentos que rondam os quatro milhões de meticais é basicamente a materialização do que a CTA se tornou, um ninho de oportunidades, onde quem controla a cadeira controla o jogo.
Mais do que gerir uma instituição, o presidente da CTA torna-se o intermediário privilegiado entre o poder político e os grandes negócios, podendo influenciar concursos públicos, definir os rumos do ambiente de negócios, e garantir apoios internacionais para projectos que, por vezes, se confundem com os seus.
É este o “pote de mel” que atrai empresários sérios, oportunistas, figuras do sistema e até operadores políticos disfarçados de empreendedores. Quem controlar a CTA poderá, a médio prazo, usar o capital simbólico do cargo para ingressar no Governo, influenciar a política económica ou até alimentar futuras candidaturas. E não é exagero. Basta olhar para os círculos da Frelimo: há ali vários ex-dirigentes empresariais que saíram da CTA para gabinetes ministeriais ou conselhos de administração.
Ao invés de ser uma organização ao serviço do sector empresarial moçambicano, a CTA é hoje um campo de batalha de elites económicas alinhadas com interesses partidários e privados. A linha entre empresário e político está borrada. A corrida à presidência da CTA já não se decide apenas nos votos das associações, decide-se nas salas escuras onde se negociam perdões de dívidas, promessas de contractos, e alianças com figurões do sistema.
Se queremos preservar o sector privado como um espaço de autonomia e desenvolvimento económico, é urgente repensar o modelo de governança da CTA, blindando-a contra capturas, clientelismo e instrumentalização política. Porque do jeito que está, a CTA serve menos ao país e mais aos seus presidentes.
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