Ao atirar duras críticas contra a gestão da LAM nos seus primeiros 100 dias de governação, Daniel Chapo quis passar a imagem de um líder intolerante à corrupção e disposto a fazer rupturas com velhas práticas. Mas entre o discurso inflamado e a realidade do aparelho do Estado, existe ainda uma pista longa e cheia de obstáculos.
Comparar antigos gestores da LAM a “raposas” e “gatos” é bonito no plano simbólico. Em poucas palavras, Chapo tocou numa ferida antiga, a captura das instituições públicas por redes de interesse, onde quem deveria servir o povo serve-se do Estado. O problema é que, em Moçambique, diagnósticos eloquentes são muitos e incontáveis. O que falta, e falta cronicamente, é a capacidade de se ir além das palavras.
O caso dos de enviados à Europa que regressaram sem inspecionar um único avião é sintomático de uma elite burocrática que perdeu o sentido de missão pública. é sinal de que, apesar das promessas de renovação, o sistema de escolha e vigilância sobre quem ocupa funções estratégicas permanece vulnerável como sempre.
Chapo promete “limpar” a LAM e “reorientar” a empresa, substituindo os gestores incompetentes por “pessoas competentes”. Eu pensei que iria mandar instruir aos órgãos da justiça por exemplo para se devolver o dinheiro usado indevidamente ou mesmo prender esses tais corruptos, afinal não deveria ser assim? É preciso mudar o próprio método de governação. Basear a nomeação de dirigentes em mérito e integridade comprovada, e não em fidelidade partidária ou alianças circunstanciais!
Talvez ela não saiba, mas criou hoje expectativas. Se conseguir, de facto, reformar a companhia aérea, poderá consolidar uma imagem de reformador. Mas se, como tantos outros antes dele, ficar preso no labirinto das promessas, corre o risco de ser visto como apenas mais um piloto de discursos, incapaz de fazer a máquina decolar para um destino diferente.
Chapo colocou-se em xeque sozinho: transformou este caso da LAM num teste à credibilidade do próprio Governo. E, por agora, o voo ainda está em zona de turbulência.
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Tudo têm seu principio, vamos deixar as coisas começarem, tenho certeza que haverá um passo galopante neste processo, de facto o que falha nestas empresas milionárias é colocar pessoas de ciclos de interesses, não pessoas competentes, enquanto continuaremos assim, essas empresas continuarão como saco azul para esse ciclo de interesse.
Quero louvar a sua iniciativa, continue trazendo a informação ao povo.