A primeira vez que pisei o solo da Zambézia foi em 2013, numa missão parlamentar, na qualidade de Deputado na Assembleia da República. Na altura, esperava encontrar as indústrias lendárias e os projetos agrícolas robustos que outrora estudei nos livros escolares. Encontrei, no entanto, escombros (ruínas) do que foi, um dia, o orgulho inequívoco económico de Moçambique ao nível da região e do Mundo.
Desde 2018 vivo nesta província, são mais de 6 anos, visitei vários lugares nesta parcela do País, por isso posso declarar, com propriedade e dor, que a Zambézia foi e está a ser roubada do seu estatuto de liderança na economia nacional. Ora vejamos, como é possível, uma Província que antes e depois da independência, contribuía com cerca de 32% do Produto Interno Bruto nacional. Hoje, actualmente esse número caía para menos de 12%. Isso é o resultado da continua destruição e colapso do tecido industrial, agrícola e pesqueiro, sabotagem sistemática dos grandes projetos que constituem um plano maquiavélico de empobrecimento e desprezo ou marginalizacao dos zambezianos e dos Chuabos desta terra fértil e rica.
Volvidos 50 anos de governação da FRELIMO, a Zambézia continua relegada ao quarto, quinto ou mesmo décimo plano e é quanto este regime continuar a estuprar os moçambicanos no períodos eleitorais não esperemos que isto mude. O exemplo mais gritante é o aeroporto de Quelimane: nunca se mudou um único prego desde a era colonial. Mas Pemba, Nampula, Lichinga, Inhambane, e outros os seus aeroportos foram reabilitados; aliás sem necessidade foi foram colocados ou considerados novos aeroportos em Nacala que dista a 200km do aeroporto de Nampula, Xai-Xai que também dista a 200Km ou pouco mais do aeroporto de Maputo, porém Quelimane nada acontece, o que é que esses tem que Quelimane e Zambezia não tem? A resposta é clara, é o retrato do abandono, da falta de visão e da indiferença do Estado em relação ao desenvolvimento desta província, porém é uma das províncias o segundo com mais deputados na Assembleia da República.
Os grandes projetos, sejam nacionais ou internacionais que se esperava que transformassem a Zambézia foram sabotados. A província, riquíssima em recursos minerais e com extensas terras aráveis, continua entre as mais pobres do país. O resultado? Crianças a morrerem por malnutrição.
Compatriotas, a Zambézia é vítima de um sistema que a marginaliza e de um regime que se habituou a prometer para nunca cumprir, é só visitar todas promessas eleitorais da Frelimo de todos pleitos eleitorais e descubra a percentagem de cumprimento.
O primeiro Millennium Challenge foi uma farsa, parou mal alem de ter sido mal executado, visita as obras pelas artérias da cidade de Quelimane. Outros projectos anunciados com pompa e circunstância também morreram na praia. Recentemente, na campanha eleitoral ouve promessas do homem que apareceu como salvador do barco de nachingueia, tanganhica…, que tinha embatido na pedra de gelo no mar, como foi com o imponente “titanic” esperava-se que o tão falado Porto de Macuze, apresentado como reaparecimento da Zambézia, finalmente se materializasse, isto é sair do papel, do computador ou do imaginário. O Plano Estratégico de Desenvolvimento foi até aprovado na Assembleia da República. Mas o Porto de Macuze? Nem rasto! Até agora, nada indica que o projecto tenha saído do papel. A “Capital Legislativa” em Mocuba, sonhada como símbolo de descentralização e progresso, não conseguiu infiltrar-se em tal plano.
Como se não bastasse o abandono interno, até os espíritos internacionais parecem ter virado as costas. O poderoso Donald Trump e o bilionário Elon Musk decidiram encerrar o segundo pacote do Millennium Challenge, que destinava cerca de 500 milhões de dólares exclusivamente para a Zambézia. Tudo estava preparado. As mãos dos camaradas já esfregavam-se ansiosas pela chegada das “verdinhas”, como se apelida o dólar americano. Mas os olhos se apagaram. O MCI desapareceu está encerado pelo Governo Americano. Mais uma vez, a Zambézia foi traída.
Por isso, fica a pergunta: e agora, que será da Zambézia? Até quando esta província continuará a pagar o preço da indiferença? Até quando os zambezianos continuarão a ser marginalizados, ignorados e esquecidos?
É hora de acordar. É hora do País e o regime pensar seriamente na Zambézia e nos zambezianos.
Se, as políticas nacionais são aprovadas na Assembleia da República onde a Zambezia tem o segundo maior número de deputados juntos, por que é que à Zambezia continua nestas condições? A que representam aqueles deputados que se mudaram para Maputo as custas da confiança dos Zambezianos?
Se realmente aqueles deputados, juntos, tem em mente o desenvolvimento da Nação e o seu círculo eleitoral, chegada é a hora de se impor para o bem da Zambezia que lhes elegeu!
E é também hora de nós, zambezianos, incluindo a mim mesmo que aqui vivo há mais de seis anos, e em particular nós os Chuabos — que somos a maioria — deixarmos de nos combater, de nos autodestruir, de vivermos em brigas e fofocas internas, cada um querendo subir à custa do outro. É hora de nos unirmos, levantarmos e lutarmos pela nossa província, pela nossa terra. Porque Zambézia também é Moçambique. E nós, zambezianos, também somos moçambicanos!
Ela’bo gijane! O’tonga bani!
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