Enquanto o país continua sob ameaça permanente de surtos e emergências sanitárias, seja por epidemias cíclicas, catástrofes climáticas ou um Sistema Nacional de Saúde frequentemente colocado à prova, o Instituto Nacional de Saúde (INS) e o Ministério da Saúde (MISAU) decidiram sentar à mesma mesa, em Maputo, para harmonizar estratégias. O encontro, baptizado de “Reunião Nacional de Vigilância Colaborativa em Saúde”, decorreu recentemente na capital e foi apresentado como uma tentativa de pôr fim à fragmentação que historicamente tem comprometido a resposta sanitária em momentos críticos.
Durante três dias, técnicos e decisores do sector da saúde pública, chefes de programas do INS, direcções provinciais e parceiros internacionais debateram-se com velhos problemas e promessas renovadas, com foco na criação de directrizes unificadas para a vigilância integrada de doenças e respectivas respostas.
A Directora Nacional de Inquéritos e Observação de Saúde no INS, Ivalda Macicame, não escondeu a esperança de que o fórum marque o início de uma viragem estrutural:
“Estamos extremamente ansiosos em acompanhar as discussões que serão feitas neste fórum […] para podermos reforçar os sistemas de vigilância em saúde pública no nosso país”, afirmou, num registo mais aspiracional que conclusivo.
Já Aleny Couto, Directora Nacional Adjunta de Saúde Pública, trouxe à tona o que chamou de “cenário sanitário complexo”, aludindo à sucessão de eventos climáticos extremos, às pressões demográficas e às ameaças constantes de epidemias e pandemias.
“A nossa vulnerabilidade enquanto país exige uma maior eficiência na coordenação e comunicação entre todas as unidades orgânicas e actores envolvidos”, reforçou, sublinhando a necessidade de se alinhar prontidão institucional com resposta efectiva.
Não faltaram, entretanto, diagnósticos que há muito deixaram de ser novidade: falhas na interoperabilidade dos sistemas, ferramentas de recolha de dados obsoletas, canais de comunicação fragmentados e ausência de uma cultura sistemática de partilha de informação entre os diversos níveis do sistema.
A reunião, embora promovida como fórum técnico, acabou por ter um subtexto político — a tentativa do Estado de recuperar alguma legitimidade na gestão de crises sanitárias, sobretudo após os constrangimentos vividos nas respostas à cólera e à Covid-19, que expuseram um sistema pouco ágil, frequentemente dominado por abordagens reactivas.
Por ora, os documentos continuam em circulação, os discursos foram feitos, e o desafio permanece: transformar encontros e actas em acções concretas e sustentáveis. Porque como lembrou a própria Aleny Couto, “a saúde é a base para o desenvolvimento do país”. E, por enquanto, a base ainda treme.
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