Cinco anos depois do Ciclone Idai ter arrasado parte significativa do centro de Moçambique, com epicentro na cidade da Beira, o Fundo de Resiliência para Micro, Pequenas e Médias Empresas (MPMEs), lançado pela Gapi-SI, mantém-se como uma das poucas iniciativas com provas dadas na recuperação económica pós-calamidade. Criado em Abril de 2019 com apoio da cooperação dinamarquesa (DANIDA) e colaboração da Fundação Leite Couto, o fundo teve como ponto de partida simbólico o mercado do Maquinino, uma das zonas comerciais mais fustigadas pela tragédia, e contou com o impulso do então presidente do Município da Beira, Daviz Simango.
O instrumento financeiro foi inicialmente concebido como um modelo-piloto de intervenção em contextos de desastre, com o objectivo de apoiar a retoma de pequenos negócios e salvaguardar empregos. A aposta viria a colher frutos: após uma avaliação positiva, a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) aprovou, em Janeiro de 2023, um financiamento adicional para consolidação e expansão da iniciativa.
Entretanto, como é habitual nas marés incertas da cooperação, a parceria com a USAID foi recentemente interrompida. Apesar disso, a Gapi não cruzou os braços. Consciente da importância estratégica do tecido empresarial de base na economia nacional, a instituição iniciou negociações com novos parceiros para garantir a continuidade do Fundo de Resiliência MPMEs. A ideia é clara: transformar o fundo numa resposta rápida e sustentável a futuras calamidades, evitando que catástrofes naturais continuem a empurrar milhares de famílias para a pobreza crónica.
Até ao final de Janeiro de 2025, o fundo já tinha concedido cerca de 1670 créditos, num valor total aproximado de 4,5 milhões de dólares norte-americanos. Destes, mais de 30% foram atribuídos a empresas detidas por mulheres e cerca de 25% a iniciativas lideradas por jovens, numa tentativa evidente de conjugar resposta emergencial com inclusão socioeconómica.
A Gapi delineia três grandes objectivos para esta iniciativa:
- Restabelecimento de Negócios: Disponibilizar capital de giro e apoio financeiro imediato a empresas afectadas, encurtando o tempo necessário para regressarem à actividade normal.
- Preservação de Empregos: Garantir que trabalhadores vulneráveis, sobretudo em zonas periurbanas e rurais, possam retornar rapidamente aos seus postos de trabalho, reduzindo o impacto social das calamidades.
- Resiliência a Longo Prazo: Reforçar a capacidade de resposta das empresas, não apenas com crédito, mas também com formação e ferramentas de gestão que as preparem melhor para futuras crises.
À medida que o país se vê cada vez mais exposto a fenómenos climáticos extremos — e com um Estado ainda sem instrumentos ágeis para mitigar impactos no sector informal —, o Fundo de Resiliência MPMEs parece emergir como um modelo pragmático de resposta. Falta, no entanto, o ingrediente-chave: aliados com músculo financeiro e visão estratégica para garantir que a resiliência não fique, mais uma vez, à mercê da próxima tempestade.
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