Já não é só o giz que se quebra na sala de aula. Desta vez, os estetoscópios calaram-se e os termómetros esfriaram no Hospital Rural de Mocuba, um grupo de profissionais de saúde saiu à rua esta semana para reivindicar aquilo que o Estado teima em ignorar, o pagamento de horas extras e turnos acumulados ao longo de meses.
Entre apitos, cânticos, os técnicos de enfermagem, pessoal administrativo e auxiliares do hospital decidiram interromper as suas actividades, num protesto que teve mais de desabafo do que de confronto. “Queremos nosso dinheiro”, gritavam alguns, lembrando que cuidar de vidas também exige respeito pela vida de quem cuida.
O protesto surge numa altura em que o sector da Saúde, particularmente nas zonas rurais, parece estar num compasso de espera por reformas que nunca chegam. No epicentro do problema está o não pagamento das horas extraordinárias e dos turnos nocturnos, trabalho essencial, sobretudo num contexto de crónica escassez de pessoal.
Este episódio soma-se à mobilização recente de professores da Escola Secundária Samora Machel, também em Mocuba, que denunciaram atrasos salariais e condições de trabalho degradantes. Dois sectores vitais, duas manifestações distintas, mas um denominador comum, a frustração perante um Estado que parece mais interessado em silenciar do que em escutar.
Fontes locais indicam que o governo distrital ainda não emitiu nenhum posicionamento oficial sobre o protesto dos profissionais de saúde. Enquanto isso, os doentes continuam a chegar, as filas crescem e o clima no hospital permanece suspenso entre o juramento de Hipócrates e a realidade da hipocrisia institucional.
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