Namacurra, 08 de Dezembro de 2024 (Jornal Txopela) ― As manifestações populares baptizadas como 4×4 continuam neste quinto dia com a Estrada Nacional bloqueada por populares que estabelecem novas regras de trânsito, desafiando abertamente a autoridade. A via fecha as 8h, só reabre às 16h, mas não é apenas o tráfego que está interrompido — é a paciência de um povo que chegou ao limite. As manifestações ganharam força desde a divulgação dos controversos resultados eleitorais de 9 de outubro pela Comissão Nacional de Eleições (CNE), que muitos consideram fraudulentos.
A Estrada Nacional Nº1 (EN1), principal artéria de ligação do país, é o palco de uma resistência organizada. Em Namacurra, um dos três principais pontos de bloqueio, a transitabilidade foi condicionada nas primeiras horas do dia, dois camiões transportando madeira não processada foram retidos pelos manifestantes. Segundo fontes do Jornal Txopela, havia planos de incendiar os veículos como forma de protesto contra a exploração florestal, que muitos consideram da pilhagem dos recursos naturais.
“A madeira da Zambézia enriquece uns poucos, enquanto as nossas crianças estudam debaixo de árvores e sentadas no chão”, gritava uma das líderes das barricadas. De facto, a realidade da educação na província continua alarmante: escolas sem carteiras, sem telhados, e professores que trabalham em condições precárias. Para os manifestantes, a madeira que sai da Zambézia em direcção a portos internacionais deveria ser usada para beneficiar as comunidades locais.
Centenas de passageiros vindos de outras províncias encontram-se retidos em Namacurra, aguardando a abertura da estrada. Famílias inteiras, comerciantes e estudantes improvisaram acampamentos à beira da estrada, transformando o que era para ser uma viagem rotineira em um momento de reflexão e patriotismo.
Os retidos tambem cantam o hino nacional, em uma demonstração de unidade que contrasta com a tensão do momento. “Estamos aqui porque acreditamos que Moçambique pode ser um país melhor. Esta luta não é só da Zambézia, mas de todos nós”, afirmou Augusto, um passageiro vindo de Nampula.