Inácio Reis delegado provincial da RENAMO na Zambézia, com a habilidade de um prestidigitador, acusou recentemente Manuel de Araújo de ser o maestro das desavenças internas do partido em Quelimane. Segundo Reis, as manifestações contra a liderança de Ossufo Momade não são mais do que uma orquestração astuta de funcionários do Conselho Municipal, todos a mando de Araújo. Ele até sugere que as fichas de apoio à candidatura de Venâncio Mondlane são assinadas nas horas vagas por lá.
Inácio Reis parece esquecer-se de um pequeno detalhe: a democracia. Sim, essa mesma democracia que a Renamo jura de pés juntos que é pai ou mãe, apesar de tudo, ainda pulsa no coração de Quelimane. Araújo, por mais que quisesse, não teria como manipular tal cenário. A revolta contra injustiças é parte do DNA desta cidade. Ignorar isso é mais do que imprudência, é falta de preparação política.
Manuel de Araújo, em resposta, promete queixar-se ao Conselho Jurisdicional da RENAMO, uma espécie de órgão fiscal das normas do partido, alegando que as acusações de Reis são inverdades que ferem a sua honra e a dos funcionários do Conselho Municipal. A minha sugestão? Não se limite ao Conselho. Leve Inácio Reis aos tribunais. Permitir que essas acusações permaneçam no ar é dar-lhes força, transformá-las numa sombra que paira sobre a sua carreira.
A verdadeira intenção de Inácio Reis, ao que tudo indica, é despojar Araújo de sua posição de poder. Ao retirar-lhe a confiança política, Reis espera pavimentar o caminho para influenciar o próximo presidente do município de Quelimane (graças aos acordos entre a Frelimo e a Renamo na revisão da lei é possível), aproximando-se dos tão cobiçados cofres municipais. Mas esta jogada parece ter sido mal calculada. Primeiro, num acto antidemocrático, Reis excluiu Araújo da lista dos membros do Conselho Nacional da Renamo provenientes da província da Zambézia, numa tentativa de apagá-lo do mapa. Mas o que aconteceu depois? Araújo, mesmo ausente da Zambézia, foi eleito por aclamação como candidato a governador da Zambézia, com uma vitória expressiva de 86 votos a favor. Nem Maria Rita, com seus 8 votos, nem a deputada Inês, com apenas 1, chegaram perto.
Agora, resta a pergunta: Manuel de Araújo aceitará essa indicação? E se aceitar, como lidará com seu principal detrator, Inácio Reis? A política, especialmente na Zambézia, é um jogo complexo de xadrez, onde cada movimento pode ser decisivo. A história ainda está longe de acabar, e nós, meros espectadores, continuaremos a assistir, talvez com um balde de pipocas em mãos. Porque, no fundo, a política é isso: um espetáculo contínuo, repleto de surpresas, reviravoltas e, acima de tudo traições.
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