Carlos Mesquita, ministro das Obras Públicas, Habitação e Recursos Hídricos de Moçambique, parece estar determinado a não ser esquecido nesta competição desenfreada de declarações absurdas que marcam o actual governo. Talvez, ao perceber que o presidente Nyusi já tem uma sólida carreira de memes virais nas redes sociais, Mesquita tenha decidido que também merece o seu lugar ao sol. Afinal, nada como um bom absurdo para garantir notoriedade em tempos de internet.
Segundo Mesquita, “gostaria de dizer aqui que o stress causado pelas nossas estradas é devido ao excesso de viaturas de segunda mão, uma vez que cada família moçambicana actualmente tem três ou quatro viaturas (…)”.
Aparentemente, segundo o iluminado ministro, os pneus de segunda mão são dotados de algum tipo de maldição que só se manifesta em veículos importados do Japão ou da China. Pneus novos, por outro lado, gozam de uma pureza quase divina, imaculados por qualquer suspeita de inadequação. Mas ele ignora copiosamente a qualidade das obras do ministério que ele superintende.
E mais, a cereja no topo do bolo é a empresa de construção de estradas da filha do ministro. Há quem diga que a empresa é especializada não só em construir estradas, mas também em falsear a qualidade dessas construções. Seria prudente, claro, que Mesquita verificasse a qualidade das obras realizadas pela empresa da filha. Talvez até pudesse organizar uma excursão, convidando uma equipe multissetorial e a imprensa para avaliar a excelência do trabalho.
E não podemos esquecer a coincidência providencial: Mesquita já foi Ministro dos Transportes e Comunicações e, durante o seu mandato, a família detinha uma empresa de transportes. Agora, como Ministro das Obras Públicas, sua filha comanda uma empresa de construção. A transparência desse governo é quase palpável, não é mesmo? Tudo muito bem alinhado, sem qualquer sombra de conflito de interesses.
No fundo, a sua declaração infeliz apenas acrescenta mais um capítulo ao livro das incoerências governamentais. Num país onde a verdade parece ser uma commodity rara e valiosa, o ministro das Obras Públicas nos brinda com mais uma aula de desinformação e desrespeito à inteligência dos cidadãos. Aguardemos o próximo episódio desta novela tragicômica…