Por: Zito do Rosário Ossumane (Régulo de Inhassunge)
A política africana está a mudar diante dos nossos olhos. Durante décadas, o espaço político foi dominado pelos partidos históricos e líderes que se apoiavam em estruturas hierárquicas tradicionais. Hoje surgiu uma força diferente, imprevisível e poderosa, a famosa Geração Z. Jovens nascidos entre meados dos anos 1990 e início da década de 2010 estão a redesenhar o mapa da política no continente.
Eles cresceram num mundo digital, ligados a smartphones, redes sociais e com acesso imediato à informação, mas também enfrentam muitos desafios concretos como o desemprego, desigualdade, corrupção e serviços públicos deficitários. Diferente das gerações anteriores, estes jovens não esperam pelos partidos ou pelos políticos para agir. Eles criam, mobilizam e pressionam, usando a tecnologia como ferramenta de transformação.
A Geração Z não se limita ao teclado, leva a indignação para as ruas. Exemplos não faltam. Na Nigéria, o movimento
#EndSARS mobilizou milhares contra a violência policial e forçou a dissolução de uma unidade como a UIR ou GOE. Na África do Sul, os protestos estudantis
#FeesMustFall mudaram as políticas educacionais e deram voz a toda uma geração. E no Quénia, a campanha
#OccupyParliament fez com que o governo recuasse em algumas medidas fiscais sufocantes.
Em Moçambique, a força desta geração começa a ser visível também. Jovens jornalistas, músicos e influenciadores estão a questionar, práticas de corrupção e injustiça social, organizam campanhas digitais que ampliam o debate e desafiam narrativas políticas antigas. Estes jovens provam que é possível participar sem depender de um partido, mas com resultados reais. Lembre-se de como derrubaram as taxas de internet.
O impacto não se limita às ruas ou às redes sociais. Em muitos países africanos, mais de 60% do eleitorado tem menos de 25 anos. Isso obriga aos partidos e governos a responder de forma directa, transparente e rápida. A Geração Z redefine o conceito de oposição, não precisa de ideologia tradicional ou estruturas partidárias. Actua com informação, cultura e exigência de responsabilidade social.
Claro que há obstáculos. Censura digital, repressão e perseguição ainda limitam alguns movimentos. Mas a criatividade e persistência desta geração indicam que estes desafios não vão detê-la por muito tempo.
O que se observa é uma oposição do século XXI. Ela existe nas ruas, nas universidades, nas plataformas digitais e na cultura urbana. Está a moldar eleições, legislação e opinião pública de forma que líderes tradicionais não podem ignorar.
A política passiva está a ceder lugar a uma política activa, conectada e exigente. Para compreender o futuro político do continente, é importante olhar para esta geração que transforma indignação em acção, hashtags em movimentos reais e criatividade em poder político.
A Geração Z é a nova oposição continental, e qualquer análise séria sobre a política africana precisa partir desse pressuposto.
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Zito do Rosário Ossumane é um jornalista investigativo, empreendedor da comunicação e activista político moçambicano. Fundador e diretor do Jornal Txopela, consolidou a sua trajetória na luta pela liberdade de imprensa, transparência e defesa dos direitos humanos em Moçambique. Actualmente Presidente o Misa na Zambezia
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