A morte de
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, conhecido nos corredores do crime como “Dollarman”, não é apenas o desfecho de uma operação policial em Joanesburgo. É também um sinal de como o crime organizado já não conhece fronteiras entre Moçambique e a África do Sul, alimentando uma economia paralela que se sustenta no medo, no sangue e no silêncio das vítimas.
O tiroteio de quarta-feira, em Kempton Park, que resultou no resgate de um empresário indiano e na morte de Dollarman, põe em evidência uma teia que há anos se arrasta entre Maputo e Joanesburgo. Gangues especializados em sequestros por resgate, lavagem de dinheiro e tráfico de armas têm encontrado terreno fértil num espaço onde a cooperação policial muitas vezes chega tarde, e onde as fronteiras oficiais se revelam porosas.
O porta-voz da Polícia sul-africana descreveu o moçambicano como “figura importante nos sindicatos regionais de raptos”, sublinhando que era procurado por vários casos tanto em Moçambique como na África do Sul. Um perfil que, para muitos, espelha a falência das instituições em travar a ascensão de criminosos que circulam entre as duas geografias com quase a mesma liberdade com que transitam viaturas de transporte de mercadorias.
Ao mesmo tempo, a operação que resultou na queda de Dollarman mostra uma mudança de tom das autoridades sul-africanas. Segundo o Brigadeiro Athlenda Mathe, só desde 2021 foram detidos 337 suspeitos e apreendidas 146 armas ligadas a este tipo de redes. É uma estatística que revela o tamanho do problema, mas também a dimensão do desafio: cortar as raízes de um negócio que se tornou altamente rentável e organizado, sustentado por corrupção, medo e cumplicidades políticas e policiais.
Em Moçambique, onde o nome de Dollarman circulava nas conversas sobre raptos de empresários e figuras de relevo, o silêncio das autoridades é ensurdecedor. Nenhuma instituição veio ainda a público comentar a morte do homem que, segundo fontes policiais sul-africanas, era um dos mais procurados também em solo moçambicano. Esse silêncio, mais do que um detalhe, reforça a ideia de que a fronteira entre a criminalidade e o poder nem sempre é nítida.
A queda de Dollarman pode ter interrompido temporariamente a actuação de uma célula de raptores. Mas, como bem recorda a experiência recente, cada vez que um líder do crime é abatido ou preso, outro emerge, pronto para ocupar o espaço vago. A questão de fundo, portanto, não é apenas quem substitui Dollarman, mas até que ponto os Estados da região estão preparados para enfrentar estruturas que operam com lógica empresarial, com recursos financeiros robustos e com ramificações que ultrapassam polícias nacionais e fronteiras políticas.
Mais do que um episódio policial, este caso revela um drama social e económico. Por trás de cada rapto há famílias destruídas, empresários paralisados pelo medo e economias locais fragilizadas pela desconfiança e pelo clima de insegurança. A morte de Dollarman pode ser celebrada como uma vitória, mas é apenas uma batalha vencida numa guerra muito mais complexa contra um crime que já se tornou transnacional.
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