O Governo da Guiné-Bissau decidiu silenciar vozes que não controla. Expulsou, sem explicação convincente, as delegações da Lusa, da RTP África e da RDP África, ordenando que abandonem o país até 19 de Agosto. As emissões cessaram abruptamente na sexta-feira, como quem apaga a luz para esconder a poeira no chão.
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A medida não é apenas administrativa. É política. É simbólica. É uma declaração de guerra contra a liberdade de imprensa e contra a própria democracia. Ao expulsar jornalistas, o executivo de Umaro Sissoco Embaló revela medo da palavra livre e desconfiança da verdade.
Lisboa reagiu com indignação. O Ministério dos Negócios Estrangeiros português classificou a decisão de “altamente censurável e injustificável”. Convocou o embaixador guineense e promete usar todos os meios diplomáticos para reverter a decisão. Mas, nas entrelinhas, nota-se a fragilidade: o discurso do “respeito pela soberania” mistura-se com a preocupação de não romper laços com um país onde interesses geopolíticos e económicos ainda se cruzam.
As direcções da RTP, RDP e Lusa não hesitaram em chamar as coisas pelo nome: “um ataque deliberado à liberdade de expressão”. A Liga Guineense dos Direitos Humanos foi ainda mais longe, denunciando um “caminho extremamente perigoso” que arrasta o país para um regime cada vez mais autoritário.
O episódio expõe a contradição da Guiné-Bissau. Um Estado que, enquanto preside à CPLP, fecha portas à própria essência da comunidade: a circulação livre de informação, ideias e cultura. Ironia das ironias: na mesma semana em que Embaló devia ser recebido em Lisboa, a sua visita foi adiada, como quem evita o constrangimento de enfrentar perguntas incômodas.
No fundo, o que está em jogo é mais do que a permanência de três delegações estrangeiras. É a sobrevivência de um espaço público onde ainda seja possível falar sem medo. Expulsar jornalistas é sempre sintoma de fraqueza, nunca de força. Quem não suporta a crítica, não governa: impõe-se. E regimes que se habituam a mandar calar, um dia, acabam por não ter mais ninguém para ouvir.
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