Poucos querem admitir, mas Moçambique esteve à beira de um golpe em 2024. Os sinais estavam todos lá, o povo furioso com à Frelimo e com o sistema eleitoral por ele imposto e por consequência descredibilizado, as nossas instituições capturadas, a violência que “cresceu tipo sangue”nas nossas próprias ruas e uma oposição desesperada pela fraude consumada antes do início do jogo eleitoral.
Havia, de facto, ambiente propício para uma ruptura pela força. E se tivesse acontecido, esse golpe teria encontrado legitimidade popular? Teria! Aliás, era isso que um grupo considerável gostaria, mas teria arrastado Moçambique para um abismo cujas consequências nos perseguiriam por um bom tempo.
O problema não é tirar à FRELIMO pela via da força, aliás, como todos vimos o golpe seria bem-sucedido, pelo menos no início. Porque o descontentamento popular com os resultados eleitorais e com o sistema montado para garantir a vitória do partido no poder atingiu níveis explosivos.
Mas teria sido um desastre para Moçambique e explico: somos pedintes e não confiávamos em nada nós. Ninguém apoia países ditatórias, a pequena ajuda e que ainda sobra depois do escândalo das dívidas ocultas também seria suspensa e nem estaríamos a conversar com nenhuma das organizações fundadas em Bretton Woods, se já estamos mal e falidos, imagine um colapso da economia de forma imediata nestes moldes?
Pelos cálculos também o investimento no gás de Cabo Delgado seria descontinuado entre outros como carvão de Tete e etc, e a nossa diplomacia no Mundo seria qualquerizada e pior, num país como este com diversas assimetrias regionais, tribalismo, regionalismo que o Estado insiste ironicamente em querer “matar” para a sobrevivência da nação (coisas mal feitas quanto a mim) teríamos a legitimação tácita para a institucionalização da lógica de que quem tem força governa, e num país como este com recursos, isso abre um tipo de portas e um inferno incalculável. Talvez eu mesmo já teria a minha milícia neste momento.
É verdade que Moçambique hoje está altamente dividido. Sulanos e provincianos é uma luta antiga, e isso não deve alarmar a ninguém e são coisas explicáveis desde que o Mundo é Mundo, mas a Frelimo tem uma nova batalha e um inimigo poderoso que julgo que não vai vencer se continuar com a actual estratégia, são os jovens.
Antes da fome que campeia nos pratos do cidadão comum, do desemprego e da frustração generalizada, a FRELIMO tem um inimigo real e perigoso com alta capacidade e motivação , os jovens que sentem que tem o futuro roubado, um sentimento verdadeiro diga-se.
E é aqui onde começa o verdadeiro peso da responsabilidade histórica do Chapo.
É um desafio civilizacional que passa por reunificar o país geograficamente e espiritualmente e o presidente e a sua equipe estão a fazer tudo na contra-mão a meu ver.
Devia de facto estar a falar com o povo neste momento, as suas ideias e as reformas que quer ver no Estado , como actua fico com a leve impressão de que é manietado.
Semana passada veio a PRM na Zambézia dizer que pelo trabalho da perícia efectuada em casa de Jonata, se chegou à conclusão que aquilo foi orquestrado com objectivos políticos, mas vimos a reação da população a seguir, a polícia pode ter razão Tecnica mas ninguém acredita nela neste momento. O Estado como existe e sobrevive se não há confiança nas suas instituições? quer dizer que eu posso cometer um crime e só porque não se confia na PRM ninguém vai colaborar. É mau!
Devíamos neste momento estar a ditar o fim do partidarismo na CNE, modernização da STAE, criação de um Tribunal Constitucional independente e funcional.
O actual modelo de reconciliação nacional é um encenação e não dará em nada, é essa a percepção pública, o que devíamos estar a fazer devia ser um diálogo real com a oposição, com os líderes religiosos, com juventudes marginalizadas e não com Bitones, com a sociedade civil e não com veículos operativos.
Nas províncias não se governa de facto, e não há musculatura para isso, parece que ninguém sabe de facto o que fazer para tirar as províncias do buraco. Com exceção dos governadores de Nampula e Zambézia que tentam sair e buscar investimentos em outros países, os outros são corta-fitas. Deixem que
quem vive os problemas tenha poder de decidir as soluções. A propósito disso é a conferência de investimentos para a Zambézia ser discutida em Maputo por imposição da primeira-ministra. A mim deu raiva!
Os assassinatos políticos podem ser evitados, estão a usar as nossas forças como células da Frelimo e como instrumento de repressão política. Não dá e não eficaz a longo prazo, como está evidente agora.
Chapo tem duas opções:
Ou continua o “Presidente da Frelimo, dos lambe-botas, dos antigos combatentes e da OJM”, enterrando como está a fazer as tensões debaixo do tapete, até que uma nova onda de manifestações e sem controle explodam.
Ou se converte rapidamente num estadista com coragem de mudar o nosso curso da história.
Essa janela de oportunidade está a fechar-se. O problema econômico que é a luta que abraçou como bandeira e que da qual concordo não será bem sucedida sem resolver estas pendências.
Não existe presidente sem povo. Está a jogar o jogo errado e a cumprir interesses, mas não se esqueça que até bem pouco tempo os jovens não tinham medo de morrer, aliás, as estatísticas estão aí . Muitos deram a vida por se sentirem momentaneamente livres e não está resolvido e outros ainda não vingaram os seus mortos. Ponha a mão na consciência. Não vão conseguir matar todos!
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Luís de Figueiredo é editor do Jornal Txopela desde 2017. Jornalista com sólida experiência em reportagem política, económica e social, tem estado na linha da frente da cobertura de temas relevantes para Moçambique, com especial atenção à região centro e à província da Zambézia.
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