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Zambézia: o arroz existe, a água corre, mas falta vontade de governar

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Há terras que não podiam  se ajoelhar diante da miséria. A Zambézia é uma dessas terras. Rica em braços, fértil em solos e abençoada com rios que nunca secam. Aqui brota arroz como esperança, mas a esperança tem sido ceifada não pela seca, nem pela praga, mas por uma seca mais grave, a de vontade política.

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A província dispõe de 11 regadios distribuídos por distritos como Mopeia, Nicoadala, Maganja da Costa e Namacurra. Três funcionam, o resto cambaleia ou jaz. Ao todo, temos 3.750 hectares com infraestruturas prontas para irrigação, mas só 1.220 hectares estão a ser explorados. Em termos simples, temos a panela ao lume, mas ninguém quer pôr arroz lá dentro.

Os números não mentem. Só Nicoadala, com os seus 40 mil hectares lavrados, promete mais de 145 mil toneladas de arroz este ano. Imaginem o que seria se os regadios de M’ziva, Limane, São Francisco de Assis e Mutage estivessem operacionais, com mecanização, crédito agrícola e uma política de comercialização seria. Moçambique, hoje é importador de arroz, passaria a olhar para a Zambézia como o Senegal olha para o Vale do Rio Senegal, uma âncora alimentar.

Mas a realidade é outra. O que temos são regadios vandalizados e promessas eleitorais demagogas. O Estado entra, financia, fotografa, inaugura  e vai-se embora antes que a primeira colheita aconteça. O modelo é cíclico, intervenção sem continuidade, investimento sem manutenção, discurso sem consequência.

A culpa não é dos camponeses. Eles lá estão, dia após dia, lançam as sementes como quem atira preces ao chão. Também não é da natureza, chove o suficiente, os rios transbordam, o clima ajuda. A culpa mora mais acima, nos gabinetes climatizados.

Falta vontade política, e essa ausência não se disfarça com projectos-piloto nem com caravanas ministeriais. Se houvesse vontade, o Governo estruturaria um Plano Provincial de Desenvolvimento Agrário, financiaria silos, garantiria preços mínimos, eliminaria os intermediários especuladores. Se houvesse vontade, regadios não seriam deixados à sorte dos ciclones ou dos ladrões de sucata em Namacurra.

Não é por falta de estudos, nem de exemplos internacionais. O Vietname saiu da fome para o top 5 mundial de exportadores de arroz em menos de 30 anos. Fez isso com irrigação, organização camponesa e crédito agrícola. Moçambique, com muito menos população e muito mais terra arável, não consegue alimentar nem os seus próprios mercados urbanos.

O arroz é mais do que um alimento, devia ser soberania,  emprego, escola paga, e hospital evitado. Quando um país abandona o seu potencial agrícola, abdica da sua dignidade. E quando uma província como a Zambézia, com tudo para ser celeiro nacional, é tratada como periferia política, então o problema não é técnico — é moral.

Não se trata de sonhar alto. Trata-se de exigir baixo: que o Estado faça aquilo que prometeu. Que regue o que já plantou. Que olhe para a Zambézia como o que ela é — a chave para a soberania alimentar de Moçambique.


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Zito do Rosário Ossumane
Zito do Rosário Ossumanehttps://txopela.com/
Zito do Rosário Ossumane é um jornalista investigativo, empreendedor da comunicação e activista político moçambicano. Fundador e diretor do Jornal Txopela, consolidou a sua trajetória na luta pela liberdade de imprensa, transparência e defesa dos direitos humanos em Moçambique. Actualmente Presidente o Misa na Zambezia
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