Circulam nas redes sociais e noutras plataformas de informação os pronunciamentos do novo Secretário do Estado (SED) de Niassa,
Silva Livone onde ele afirma com categoria e de rosto levantado que a primeira preocupação de um jovem, e ele estabelece intervalo, de 20 a 30 e poucos anos deve ser de adquirir um talhão.
Estes pronunciamentos foram rotulados de ofensa à juventude e ao povo no geral, porque segundo argumentos que têm pululado toda que é parte é de que ele não tinha que dizer isto, sabendo que apesar de a Lei da Terra estabelecer a terra como propriedade do Estado e ninguém tinha que vender ou comprar, a realidade dita o contrário. O negócio de terra é tão lucrativo, sendo que só para sua aquisição é necessário um investimento de toda a vida. Outro desafio é haver parcialidade na distribuição de terra, sobretudo nas zonas de expansão. Têm facilidade de aquisição de terra nestes moldes os que possuem cartão vermelho e/ou familiares de dirigentes graúdos. Esta forma de proceder joga muitos jovens na situação em que o representante do SED em Niassa advoga.
Todavia, insisto na lógica de que as pessoas não tiveram tempo suficiente para filtrar a mensagem do SED e que na minha pobre opinião, Silva Livone não precisava pedir desculpas aos jovens sequer ao povo, porque ele teve a coragem de dizer uma verdade que muitos não teriam a coragem de o dizer e muitos, porém, não estão preparados em ouvir.
Se pensarmos fora da caixa política, havemos de perceber que nas nossas comunidades, tradicionais, até 15 anos de idade os homens já começam a construir as suas primeiras casas no quintal dos pais, os designados gabes ou surgery house do português “casa de cirurgia” e mais tarde quando se casam lhes são atribuídos talhões para construir casas onde passarão a habitar com a família.
Neste contexto, tradicional, é também pobre, talvez inválido quiçá inútil quem até essa idade, se não for por outra ocupação, estudos na cidade […] não tiver adquirido talhão e construído uma casa
Não é à toa que professores, logo que começam a trabalhar correm para os bancos, com a mesma velocidade com que os europeus vieram à Africa. O professor está ciente de que talhão é prioridade. Repito, talhão é prioridade.
Portanto, se o governo tem como plano resolver a situação de habitação para jovens que a maioria vive nas casas dos pais e/ou de seus dependentes, o melhor a fazer é distribuir talhões a todos os jovens, sem qualquer tipo de discriminação. Todavia insisto na ideia de que Silva Livone não devia tampouco pedir desculpas a ninguém e digo mais: nós queremos jovens como estes que dão de frente.
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Gongolo R. Sinalo é um escritor e docente moçambicano dedicado à promoção da cultura, da educação e do pensamento crítico na sociedade. Além de sua atuação nas redes sociais, onde mantém uma voz ativa e engajada, Gongolo tem desenvolvido trabalhos literários que refletem a realidade social e cultural de Moçambique, contribuindo para o fortalecimento da identidade nacional.
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