O Governador da Província de Nampula, Eduardo Abdula, dirigiu, nesta segunda-feira (28), no Posto Administrativo de Mutuali, distrito de Malema, a cerimónia pública de apresentação de um grupo de homens armados conhecidos como “Naparamas”.
O grupo, cuja actividade violenta havia gerado instabilidade, apresentou-se agora perante as autoridades provinciais, declarando o fim das hostilidades em Mutuali e manifestando publicamente arrependimento pelos actos de violência que protagonizaram.
Na ocasião, Eduardo Abdula, numa intervenção que não escondeu a tentativa de ressignificar politicamente o fenómeno, referiu ver nos “Naparamas” jovens que, por falta de emprego e oportunidades de inserção social, teriam sido levados ao desvio de conduta. O Governador prometeu que serão desenhados programas específicos de formação, com o objectivo de converter as catanas em instrumentos de trabalho para a construção de uma nova vida.
A apresentação pública dos “Naparamas” surge num momento em que a província de Nampula busca recompor o tecido social fragilizado por episódios recorrentes de violência armada em zonas rurais, em particular em distritos como Malema e Lalaua.
Embora a declaração de arrependimento dos ex-combatentes tenha sido acolhida com alguma expectativa, vozes críticas apontam que o episódio expõe a falência de políticas inclusivas e de desenvolvimento rural que, durante anos, negligenciaram a juventude local, criando um caldo fértil para a proliferação de grupos armados.
Sem um programa robusto e sustentável de reintegração, alertam especialistas em segurança e desenvolvimento comunitário, a promessa de “transformar catanas em enxadas” pode não passar de mais um gesto simbólico num país onde os processos de desmobilização raramente se consolidam no terreno.
Quem são os Naparamas?
Os Naparamas surgiram em Moçambique no final da década de 1980, no auge da guerra civil, como um movimento paramilitar popular que combatia a Renamo em apoio às forças governamentais da Frelimo.
Originários da província de Nampula e Zambezia, os Naparamas eram compostos maioritariamente por camponeses organizados de forma espontânea, que, segundo relactos da época, recorriam a práticas tradicionais e crenças de invulnerabilidade espiritual para se protegerem em combate.
O seu nome deriva do termo “naparama”, que, em algumas línguas locais, significa “aquele que ataca”. Rejeitavam armamento pesado, preferindo lutar com catanas, lanças e amuletos, numa estratégia tanto física quanto psicológica para resistir ao inimigo.
Após o Acordo Geral de Paz de 1992, o grupo foi oficialmente desmobilizado, mas nunca completamente integrado em programas estruturados de reintegração social. O seu ressurgimento pontual, como agora em Mutuali, pode revelar a persistência de tensões locais, o fracasso de políticas de inclusão rural e o reaparecimento de dinâmicas de auto-defesa comunitária num contexto de insegurança e ausência do Estado.
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