O Bairro de Icidua, em Quelimane, é um reflexo da indiferença institucional que caracteriza muitas comunidades periféricas em Moçambique. Com uma população crescente e uma luta constante pela sobrevivência, os moradores de Icidua enfrentam uma realidade alarmante: a água que consomem é imprópria, perigosa e um verdadeiro risco à saúde. Em pleno século XXI, ainda há quem beba água contaminada, e isso é simplesmente inaceitável.
A maior parte da água consumida em Icidua vem de poços rudimentares e furos artesianos construídos de forma precária. O que agrava essa situação é o fato de que esses pontos de captação estão, frequentemente, localizados perto de latrinas, fossas e lixões a céu aberto. A consequência imediata é a contaminação das águas, expondo a população a doenças como cólera, diarreia e verminoses, principalmente entre crianças e idosos. Essa realidade, que poderia ser facilmente resolvida com investimentos e planejamento, é ignorada, e a população paga o preço dessa negligência.
O mais revoltante, no entanto, não é apenas a falta de infraestrutura e a precariedade do saneamento básico, mas o silêncio e a inação das autoridades. Ano após ano, o problema se agrava, mas as respostas do governo municipal e provincial continuam sendo as mesmas: promessas vazias e visitas que só ocorrem em época de eleições. Icidua se transforma, então, em palco para discursos políticos vazios, onde se prometem furos, sistemas de canalização e melhorias no saneamento, mas nada disso se concretiza. A cada ciclo eleitoral, os mesmos rostos aparecem, com microfone em mãos, repetindo promessas que se dissolvem assim que as eleições terminam.
O que ocorre em Icidua não é apenas um problema de infraestrutura; é uma questão de dignidade humana. Governar não é aparecer apenas quando os votos são necessários. Governar é cumprir compromissos com a vida das pessoas, garantindo-lhes os direitos mais básicos, como o acesso à água limpa, que é um direito humano universalmente reconhecido. O governo, tanto local quanto central, não pode continuar a tratar os moradores de Icidua como se fossem invisíveis ou descartáveis.
Para que a realidade de Icidua mude, é necessário mais do que discursos. É preciso ações concretas e políticas públicas eficazes. Em primeiro lugar, é urgente realizar um levantamento técnico da situação das fontes de água do bairro, com testes de qualidade conduzidos por instituições competentes. Isso permitiria identificar as reais condições das águas e tomar as medidas necessárias para garantir a segurança da população.
Além disso, é fundamental que sejam implementados sistemas de tratamento de água, mesmo que em pequena escala, como unidades de filtração comunitária ou tecnologias de dessalinização e purificação. Não se trata de soluções imediatistas, mas de medidas sustentáveis para que a população tenha acesso a água potável e não seja mais refém de fontes contaminadas.
Outro ponto crucial é o investimento em saneamento básico, com a construção de fossas ecológicas e a reorganização do manejo de resíduos sólidos. Essa medida evitaria que as fontes de água se contaminassem ainda mais e melhoraria as condições de higiene das famílias de Icidua.
É também necessário empoderar a comunidade, realizando campanhas permanentes de sensibilização sobre a importância da higiene, da preservação da água e sobre como exigir seus direitos junto às autoridades. A educação e a participação ativa da população são ferramentas fundamentais para garantir que o problema da água seja tratado com seriedade e urgência.
Por fim, é preciso criar mecanismos de responsabilização política. Os governantes devem ser cobrados publicamente por suas promessas não cumpridas. Não podemos mais aceitar que a população de Icidua seja tratada com desdém, como se a sua luta pela sobrevivência fosse invisível para aqueles que ocupam cargos de poder.
Icidua não precisa de visitas protocolares ou de promessas vazias. O que Icidua precisa é de respeito, dignidade e, acima de tudo, ação. A água é vida, e negar o acesso a ela é negar a humanidade. As autoridades têm a obrigação moral e constitucional de resolver esse problema com urgência. A população de Icidua já não pode mais viver entre a lama, o lixo e a sede. Esta é uma questão de justiça social, e a hora de agir é agora.
Icidua não pode esperar mais. Já é tempo de escutar e, mais importante ainda, de agir.
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