Beira = Enquanto o país mergulha num ciclo de violência política, agravado pelo pós-eleitoral conturbado e pela onda de assassinatos selectivos, o Ministro do Interior, Paulo Chachine, veio esta semana a público garantir que “não existem esquadrões da morte em Moçambique”. A afirmação, feita esta quarta-feira (16) na cidade da Beira, entra em contradição com o sentimento de insegurança crescente e os clamores da sociedade civil que não se revê na retórica oficial.
Chachine falava durante a cerimónia de abertura do VIII Curso de Formação de Sargentos da Polícia da República de Moçambique, ocasião que usou para responder às inquietações da opinião pública nacional e internacional sobre o número crescente de assassinatos, muitos deles com forte carga política, e que até hoje não mereceram investigação conclusiva nem responsabilização dos autores.
“Não existem esquadrões da morte. Nunca foram identificados nem operam sob cobertura do Estado”, afirmou o ministro, visivelmente desconfortável com o tema.
Contudo, os factos contradizem as declarações do governante. O caso mais recente que assombra a consciência colectiva moçambicana é a tentativa de assassinato de Joel Amaral, um cidadão que, além de activista, é conhecido pelas suas ligações políticas. A tentativa ocorreu em circunstâncias obscuras, sem qualquer desfecho investigativo conhecido até ao momento.
Questionado pelos jornalistas sobre a ausência de esclarecimento nos casos de homicídios com contornos políticos, Chachine disse que não existe qualquer tipo de tratamento diferenciado por parte das autoridades policiais.
“Os crimes são investigados com o mesmo rigor, independentemente do perfil da vítima”, disse, sem avançar qualquer estatística, nome de suspeito detido ou investigação em curso.
A afirmação do ministro não convence grande parte da sociedade, sobretudo quando se tem em mente uma longa lista de mortes mal explicadas, perseguições veladas e tentativas de silenciamento político, que parecem não incomodar o aparelho de justiça. Na prática, as autoridades parecem mais preocupadas em controlar o discurso do que em garantir a verdade.
Para muitos moçambicanos, a negação da existência de esquadrões da morte é apenas uma narrativa oficial para desviar atenções e esvaziar as responsabilidades do Estado numa altura em que a cultura de impunidade parece ter-se institucionalizado.
As denúncias de execuções sumárias, raptos, desaparecimentos forçados e intimidações a vozes dissidentes não são novidade em Moçambique. São, aliás, um padrão que se repete com diferentes rostos, mas com a mesma assinatura: silêncio, medo e inércia do Estado.
No país dos “desconhecidos”, os autores dos crimes continuam à solta. E o povo, desprotegido.
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