Por António de Almeida | Jornalista e Editor do Semanário Txopela
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A liberdade de imprensa que hoje celebramos não nasceu do acaso, nem caiu do céu por concessão generosa de quem detinha o poder. Ela foi conquistada. E entre os rostos que moldaram essa conquista está, inegavelmente, o de Afonso Dhlakama. Num país ainda a dar os primeiros passos rumo à pluralidade de pensamento, foi ele quem ousou desafiar o monopólio do discurso oficial. E por isso, hoje, ao celebrarmos o 03 de Maio, celebramos também a herança de um homem cuja voz permanece apos a sua morte.
Afonso Dhlakama não foi apenas líder da RENAMO. Foi, antes de tudo, um visionário — um patriota que compreendeu cedo que a verdadeira paz não viria apenas da cessação das hostilidades, mas da construção de uma sociedade onde o cidadão pudesse falar, escrever, pensar e questionar sem medo. Essa visão custou-lhe o exílio, a perseguição, e, por fim, a vida. Mas também lhe garantiu um lugar no panteão das lendas que, como ele mesmo dizia, não morrem.
Foi graças às suas lutas — militares e sobretudo políticas — que hoje podemos falar em imprensa livre. Que existam jornais privados, rádios comunitárias, canais de oposição e opiniões divergentes não é apenas fruto da abertura constitucional de 1990, mas da pressão constante que Dhlakama exerceu sobre o sistema, obrigando-o a reconhecer a pluralidade como pilar da democracia.
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Não é coincidência que muitos dos media independentes tenham florescido em tempos de tensão política. É nessas fases, onde o medo ameaça silenciar a verdade, que a imprensa livre se afirma. E é nessas mesmas fases que o nome de Dhlakama reaparece como símbolo de resistência.
Dhlakama foi coerente até ao fim. Manteve o controlo rigoroso sobre os seus homens, mesmo nos momentos mais críticos, provando uma capacidade de comando militar e político rara em África. Mas foi também humano. Sonhava com um país justo, com eleições limpas, com instituições que funcionam. Morreu nas matas da Gorongosa, não como fugitivo, mas como combatente de uma ideia: que o povo moçambicano merece mais.
A morte de Dhlakama não foi o fim de nada. Foi, talvez, o início de uma nova consciência. Uma consciência que sabe que a democracia precisa de vigilância, que a liberdade de imprensa precisa de coragem, e que o jornalismo livre é, muitas vezes, herdeiro directo de batalhas políticas travadas por homens como ele.
Hoje, mais do que nunca, é urgente recordar. Porque como dizia o poeta: o verdadeiro túmulo dos heróis é o esquecimento. E Moçambique, que ainda luta para consolidar a sua democracia, não pode dar-se ao luxo de esquecer aqueles que ousaram sonhar mais alto.
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