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Afonso Dhlakama – O General sem mordaça e o sonho traído da democracia moçambicana

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Neste 3 de maio, mais uma vez, o nome de Afonso Dhlakama repercute em todo o território moçambicano. Não apenas como memória, mas como interrogação viva; como símbolo eterno de coragem e grito ainda preso nas gargantas de milhões de moçambicanos sedentos por uma liberdade genuína. Herói incontestável para uns, controverso para outros, mas sem dúvidas, um ícone que moldou a nação e redefiniu o conceito de oposição política no nosso país. Por isso, celebrar esta data é mais do que recordar a sua morte ou o seu passado. É reanimar a chama da resistência, da coragem e da esperança. É confrontar o presente com a pergunta: “Estamos a honrar o seu legado?”

Afonso Dhlakama, homem de voz forte e presença marcante, foi um general incontrolável, o rosto mais visível da oposição – não por rebeldia cega, mas por convicção inquebrantável. Desafiou um regime, questionou uma paz vigiada e, acima de tudo, carregou às costas a esperança de um povo que queria mais do que cessar-fogo ou o silenciar das armas. Queria liberdade real, justiça, alternância de poder e dignidade num Estado de Direito Democrático.

Mas Dhlakama não foi um santo. Nem precisávamos que o fosse. Como qualquer figura histórica de grande dimensão, também cometeu erros. Tomou decisões que, até hoje, dividem opiniões. Em alguns momentos, apostou em estratégias que fragmentaram a oposição; em outros, hesitou quando o povo clamava por decisões mais ousadas. Firmou pactos duros que, embora estratégicos, tiveram altos custos políticos. Mas é nesse equilíbrio entre o homem e o mito que reside a sua grandeza. Ainda assim, nunca traiu o propósito máximo da sua luta. Por isso disse:
“Não luto por mim. Luto por Moçambique e pelos milhões que não têm voz.”
Lutava para ver materializado o ideal supremo de uma Moçambique verdadeiramente democrática.

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Se hoje o General Dhlakama estivesse vivo, o que diria sobre o estado do país? O que pensaria ao ver as eleições autárquicas de 2023 transformadas num teatro viciado? E as gerais de 2024, manchadas por exclusões injustas, manipulações grosseiras e um silêncio cúmplice das instituições? Dhlakama, que tantas vezes desceu das montanhas com uma oliveira numa mão e a Constituição na outra, não aceitaria. Não ficaria calado. Seria, mais uma vez, o primeiro a denunciar, a marchar, a resistir – mesmo que fosse a partir da parte incerta.

O que nos leva a intitular esta reflexão como “O General Sem Mordaça e o Sonho Traído da Democracia Moçambicana” é o facto de que a verdadeira traição ao seu legado talvez esteja mais próxima do que pensamos. Está na sinuosidade da própria RENAMO, partido que ele liderou com punho firme e visão clara. A liderança de Ossufo Momade falhou em manter viva a chama da resistência. Perdeu o pulso do povo, desconectou-se das bases e abandonou a luta contínua por justiça. A RENAMO de hoje preocupa-se mais em sobreviver no jogo institucional do que em continuar a ser a voz dos excluídos. Em vez de instrumento de transformação, tornou-se parte do problema. O partido que deveria ser guardião da memória de Dhlakama tornou-se irreconhecível. Acomodou-se nos corredores do poder – na Assembleia da República, no Conselho Constitucional, na CNE e no STAE – enquanto a democracia morre nas ruas.

Jovens, adultos, homens, mulheres e até crianças nas escolinhas – quanto mais nas escolas secundárias e institutos superiores – clamam por alternância, por justiça eleitoral, por alívio no custo de vida causado pela má governação do regime atual. Vidas tombam todos os dias nesta luta contínua deixada por Afonso Dhlakama, mas a RENAMO permanece num silêncio impávido que ensurdece o próprio silêncio.

Celebrar a vida e obra de Afonso Dhlakama neste 3 de maio exige coragem e não apenas emoção. Não devemos apenas exaltá-lo, mas também reconhecer, com franqueza, que o seu sonho está em risco. É preciso dizer com clareza que o nome de Afonso Dhlakama está a ser usado por pessoas que não o honram. Está a ser celebrado em cerimónias, mas esquecido nas lutas. A sua imagem é lembrada, mas o seu espírito foi enterrado – não em Mangunde, mas na cobardia política de quem deveria dar continuidade à sua obra. A liberdade pela qual lutou até à morte – morte nas matas, longe de todo conforto – está a ser vendida em fatias, enquanto os moçambicanos são chamados às urnas para escolher entre o mesmo e o mesmo, e acabam nas ruas crivados de balas e cegos por gás lacrimogéneo.

Dhlakama não morreu – foi semeado. E o tempo da colheita há de chegar. Ele vive na consciência dos que não se renderam. Nos jovens que ainda gritam por alternância. Nos velhos que ainda lembram o som das armas e as viagens em colunas militares. Nas mães que esperam justiça pelos filhos desaparecidos nas eleições e nas manifestações. Nos que recusam aceitar que o destino do país está selado por fraudes e pactos de elites nhonguistas – caloteiras do regime.

Moçambique precisa urgentemente de reencontrar o seu rumo democrático. Não se pode aceitar eleições como mera formalidade, nem partidos de oposição meramente decorativos. Precisamos de uma nova geração de líderes com coragem para romper pactos de silêncio, denunciar fraudes e construir alternativas reais ao sistema instalado – mesmo que isso cause fome ao estômago. Assim foi Dhlakama.

Os jovens deste país devem apropriar-se deste sentimento de pertença como herdeiros do sonho de Dhlakama: um sonho de um país onde o voto conta, onde o povo decide e onde a justiça é para todos. Não deixem que vos acomodem com presentes minados e envenenados. Não deixem que vos calem. Organizem-se. Mobilizem-se. Estudem. Participem – sem obstruir a paz, mesmo que aparente –, confrontem a mentira com a verdade e a opressão com coragem. Um dia o sol nascerá.

Ao invés de apenas repetir frases feitas sobre bravura e coragem, proponho que celebremos as obras e o legado de Afonso Dhlakama como ele realmente foi: um homem complexo, combativo, imperfeito, mas sobretudo, incontestável na sua missão de libertar o povo moçambicano. E que, diante do seu túmulo, cada um de nós se pergunte: estou a honrar ou a trair o seu sonho?
Ergamos a voz, o punho e a consciência – não por nostalgia, mas por urgência – e, mais uma vez, digamos:

Afonso Dhlakama não morreu. Foi semeado. E o tempo da colheita é agora.

Como dizia o próprio General:
“Mais vale morrer de pé do que viver ajoelhado!”

Autor

  • James Njiji

    James Njinji é um pensador atento às dinâmicas sociais e políticas de Moçambique, colaborando com o Jornal Txopela na análise crítica de temas contemporâneos. Com uma escrita incisiva e comprometida com a verdade, suas colunas oferecem reflexões profundas sobre os desafios e as esperanças do país.


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James Njinji é um pensador atento às dinâmicas sociais e políticas de Moçambique, colaborando com o Jornal Txopela na análise crítica de temas contemporâneos. Com uma escrita incisiva e comprometida com a verdade, suas colunas oferecem reflexões profundas sobre os desafios e as esperanças do país.

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