No melhor estilo dos governantes moçambicanos de sempre, o Presidente da República, Daniel Chapo, preferiu encantar-se com os avanços do Zimbabwe do que enfrentar a dura realidade de um Moçambique atolado em problemas estruturais antigos e mal resolvidos. Em visita à Feira Internacional do Zimbabwe (ZIFT 2025), onde participou como Convidado de Honra, Chapo expressou uma “impressão muito boa” com o que viu: agricultura pujante, criação de gado robusta, turismo bem organizado e, pasme-se, avanços tecnológicos de fazer inveja a qualquer país da SADC.
Falando à imprensa, o Chefe de Estado não poupou elogios ao vizinho do oeste, exaltando a sua experiência em áreas onde Moçambique, ironicamente, continua a patinar apesar dos slogans optimistas e dos milhões de dólares canalizados (e frequentemente mal geridos) em programas governamentais.
O Presidente esqueceu, convenientemente, que a agricultura moçambicana continua vulnerável, com milhões de camponeses dependentes das chuvas, sem assistência técnica, sem infraestruturas de comercialização e entregues ao Deus-dará. Enquanto isso, as fábricas continuam a encerrar, os campos agrícolas arrefecem e os projectos de diversificação económica permanecem nos discursos e nos documentos de gabinete.
A admiração quase reverencial pelo Zimbabwe, expressa por Chapo,parece uma confissão pública da incapacidade de sucessivos governos da Frelimo do qual ele é herdeiro directo de erguer uma estrutura económica minimamente funcional no seu próprio quintal. É mais cómodo maravilhar-se com o progresso dos outros do que enfrentar os fantasmas internos como a corrupção institucionalizada, investimentos públicos improdutivos e políticas económicas desenhadas mais para agradar financiadores externos do que para resolver os problemas do povo.
A promessa de enviar equipas moçambicanas para aprender com os zimbabweanos na área de tecnologia e digitalização é outro sinal preocupante, como pode Moçambique, que ostenta títulos de “país emergente” em tantas plataformas internacionais, não ter construído até hoje uma base tecnológica minimamente sólida, necessitando agora de se socorrer de vizinhos que há pouco tempo eram caricaturados pela própria elite moçambicana?
Pior ainda, a visita serviu para repetir os velhos chavões sobre “integração regional” e “esquecimento de fronteiras administrativas”, discursos usados há décadas para mascarar a total ausência de políticas económicas internas sérias e eficazes.
Chapo, tal como os seus antecessores, parece mais interessado em eventos protocolares e em replicar fórmulas externas do que em fazer o que se impõe com urgência: reestruturar a economia nacional a partir das suas raízes, enfrentar os interesses instalados e garantir que o potencial de Moçambique não continue a ser apenas uma frase bonita em discursos de ocasião.
Em vez de olhar para fora com olhos deslumbrados, seria mais sensato que o Presidente olhasse para dentro e se perguntasse: por que razão, com tanto potencial natural e humano, Moçambique continua a ser um gigante adormecido, enquanto outros países, com menos recursos, dão passos largos?
Se Daniel Chapo quiser mesmo deixar uma marca diferente, terá que quebrar este ciclo de rendição, auto-complacência e inércia que define a governação em Moçambique desde a primeira república. O país já não pode sobreviver apenas de “impressões boas”.
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