Henrique Eduardo Passaláqua de Gouveia e Melo, nascido em Quelimane-Moçambique, está na berlinda para concorrer às eleições da Presidência da República Portuguesa.
Não deixa de ser curioso o significado de um dos seus sobrenomes – parece que foi escolhido à medida pelos seus progenitores que esperariam que ele viesse a sulcar os mares, como marinheiro – o de Passaláqua. Vejamos o significado: No sul do Piemonte e na Ligúria, em Itália, acredita-se que o sobrenome Passalacqua possa estar ligado “àqueles que passam pela água; pássaro de água; barqueiro”.
Portanto, bem se pode dizer que o “pássaro de água”, o Almirante e ex-Chefe da Armada/Marinha de Guerra Portuguesa, Gouveia e Melo, se posiciona, apesar de ser uma figura dos mares, para conquistar o recanto terreno da Presidência da República. Terra enxuta, mas com salgas, nortadas e ondas gigantes, porque a política mete tudo isso e muito mais…
Ele tem um lastro, usando uma linguagem da indústria naval, de forte presença nesse Ramo das Forças Armadas Portuguesas, tendo servido como submarinista, principalmente, com incidência na flotilha da frota ou esquadra desse tipo de embarcação, os submarinos.
Mas Gouveia e Melo sobressaiu por alturas da pandemia da Covid quando pôs ordem na casa, no sistema de vacinação que, a dado tempo, conheceu balbúrdia e estava a resvalar para o descrédito. Mostrou a sua postura e aprumo militar e, ainda, a sua conduta de homem do leme, que sabe ter rumo e levar a bom porto a proposta que lhe foi entregue.
Esse ex-oficial militar, em texto publicado no semanário português Expresso, escreve que é apartidário, mas deixa a nota de que é próximo do PS e do PSD, portanto, do “centrão”.
O marinheiro-político fez-se por ocasião da vacinação da covid. Jamais pensara que essa sua destreza e responsabilidade, com o astrolábio na mão, o poderia levar a Belém, tendo como baliza esse instrumento para se candidatar. Não confessa, ainda, essa sua intenção – não faltará o tempo para o fazer, quando considerar oportuno para não queimar etapas, aliás, é militar – ao cargo de Presidente da República.
Cauteloso, calculista e apresentando sobriedade aritmética para não andar depressa demais, a fim de não queimar tempos e a hora própria para se apresentar, Gouveia e Melo já é, por tudo quanto tem sido dito e por todas as premissas lançadas, o candidato maior ao “posto” de Chefe de Estado.
A figura institucional de PR não tem poderes por aí além. É uma personalidade de estilo da nossa República, acantonada num semi-presidencialismo, que pós Abril, nunca os políticos quiseram mexer. Está tal e qual a deixaram, desde o tempo do Estado Novo. Figura decorativa, de corta-fitas e, mais recentemente, desde o consulado de Marcelo, bastião das selfies, dos abraços e dos beijos, além de acoitar um comentarista de serviço, de Belém…
Gouveia e Melo sabe disso. Será que poderá abanar, com a sua magistratura de influência, a Constituição para dar nova fórmula ao cargo e, também, banir certas benesses de personalidades do regime? Será que terá a coragem de perfilar a nossa Democracia como participativa, de escrutínio e de Direito?
Os pássaros de água sabem andar à chuva sem se molharem para conseguirem escapar a tempestades e trazerem bonanças. Espero para ver…
António Barreiros, jornalista
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