Os profissionais de saúde moçambicanos estão a perder a paciência. Em greve desde quinta-feira passada, dia 17, e já com serviços limitados entre as 07h30 e as 15h30, os membros da Associação dos Profissionais de Saúde Unidos e Solidários de Moçambique (APSUSM) avisam: se o Governo continuar a ignorar suas reivindicações, a paralisação pode escalar para formas mais duras e por tempo indeterminado.
A advertência foi lançada esta segunda-feira, em Maputo, pelo presidente da APSUSM, Anselmo Muchave, durante uma conferência de imprensa convocada para avaliar os dois anos de impasse desde a assinatura de acordos entre o Executivo e a associação.
“Se dentro desta semana o Governo não fechar os acordos connosco, nós seremos obrigados a piorar mais um pouco a greve”, afirmou Muchave, com um tom que oscilava entre o cansaço e a indignação.
Os profissionais em greve apontam a degradação das condições nas unidades sanitárias como uma das principais motivações da paralisação, mas a lista de queixas é mais longa e remonta a promessas feitas e não cumpridas pelo Governo moçambicano em negociações anteriores.
Segundo Muchave, embora alguns membros da APSUSM tenham sugerido uma retirada total dos serviços de saúde, a direcção decidiu conceder mais uma oportunidade ao diálogo. No entanto, o gesto está longe de ser interpretado como sinal de fraqueza.
“Não somos escravos na nossa terra”, disse o líder , sublinhando a mágoa acumulada pela classe. “Nenhum agradecimento do Governo apareceu para os profissionais de saúde, depois de tantas balas, tanto sangue que nós atendemos”.
Visivelmente agastado, Muchave criticou a postura do novo Presidente da República, acusando-o de não querer dialogar. “O novo Presidente devia ter um bocadinho de vergonha quando diz que é estranho haver insistência por parte dos profissionais de saúde em ir à greve. Submetemos o pedido de diálogo em Janeiro, depois da sua tomada de posse. Em Fevereiro voltámos a insistir, e agora estamos em Abril e nada!”, protestou.
A greve dos profissionais de saúde, embora ainda parcial, está a afectar o funcionamento normal de hospitais e centros de saúde em várias províncias, levantando preocupações sobre o impacto nos serviços essenciais, como urgências, partos e consultas para doentes crónicos.
Num país onde a crise no sector da saúde é cíclica e estrutural, a presente greve volta a expor o fosso entre os discursos de valorização da classe e a realidade vivida pelos profissionais nas enfermarias e corredores das unidades sanitárias.
Caso o Governo continue em silêncio, o sistema de saúde poderá enfrentar, nos próximos dias, um colapso com implicações humanitárias imprevisíveis.
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