Beira– Com o milho cada vez mais exposto aos caprichos da estiagem e o algodão a perder brilho nos mercados internacionais, o gergelim emerge como a nova esperança dourada da agricultura familiar na província de Sofala.
Nesta campanha agrícola 2024–2025, 49.144 produtores rurais, dispersos pelos distritos de Búzi, Caia, Chemba, Cheringoma, Chibabava, Dondo, Gorongosa, Machanga, Maríngue, Marromeu, Muanza e Nhamatanda – lançaram-se ao cultivo de mais de 73 mil hectares desta cultura, atingindo 96,2% do plano traçado pelas autoridades provinciais.
O entusiasmo das autoridades é visível, espera-se uma produtividade média de 0,86 toneladas por hectare, um feito considerável tendo em conta os limitados investimentos em mecanização, irrigação e assistência técnica. A produção deverá alimentar um mercado “cada vez mais estruturado”, dizem os gestores públicos, embora os contornos reais dessa estrutura continuem vagos e pouco acessíveis ao agricultor comum.
Apesar da aposta massiva, nem tudo correu bem. A estiagem, esse velho conhecido dos camponeses moçambicanos – afectou 238 hectares de gergelim, com perdas acentuadas em Chibabava, Maríngue e Marromeu. O número pode parecer pequeno, mas serve de alerta, sem investimentos sérios em resiliência climática, o sucesso agrícola em Sofala continua a depender de orações e previsões meteorológicas otimistas.
Para dar alento à campanha, o Conselho Executivo Provincial de Sofala, em colaboração com parceiros internacionais, assegurou a disponibilização de 64 toneladas de sementes certificadas de gergelim, mais do que o dobro da meta inicialmente prevista.
A medida é celebrada como um avanço técnico. Mas, à moda Txopela, é legítimo perguntar: por quanto tempo os agricultores dependerão de sementes distribuídas via projectos e ajuda externa? Onde está o investimento na produção local de sementes, no fortalecimento das cooperativas ou na criação de bancos comunitários de germoplasma?
Num país que vive de ciclos curtos e projectos piloto, a história do gergelim pode repetir a saga do algodão e da soja, que começaram como promessas e acabaram como dependências sazonais marcadas por preços impostos de fora e lucros concentrados em intermediários. O gergelim tem valor comercial. É procurado na Ásia, movimenta mercados no Médio Oriente, e pode tornar-se motor de exportação. Mas o que falta é estratégia nacional, assistência técnica real, infraestruturas de escoamento, armazéns, financiamento produtivo e contratos justos com compradores.
A experiência de Sofala nesta campanha pode ser lida como um sinal de que o camponês moçambicano está pronto para produzir, desde que o Estado o veja como actor económico e não apenas como beneficiário de sementes em época de campanha.
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