Quelimane – A cidade de Quelimane, ainda em estado de choque pelo baleamento brutal do músico Joel Amaral (MC Trufafá), viu nascer hoje uma campanha de solidariedade que junta afectos, revolta e… leitura política.
Foi Venâncio Mondlane, quem deu o pontapé de saída para a angariação de fundos destinados a custear o tratamento médico de Joel Amaral, internado em estado grave. A iniciativa, que está a ser conduzida através das carteiras digitais da esposa da vítima, mobiliza agora munícipes e cidadãos em várias latitudes, movidos por um forte sentimento de indignação e empatia.
Por detrás da aura de solidariedade, não faltam interpretações que apontam para uma manobra de visibilidade. Um politólogo ouvido pelo Txopela considera que, num momento em que a cidade vive uma comoção sem precedentes, “o gesto de Mondlane, embora meritório, também serve para cimentar a sua imagem como figura política sensível e alinhada com as causas populares”.
A mesma fonte sublinha que “não há acções neutras num cenário de guerra simbólica e capital político. O povo pode doar por amor, mas os líderes, muitas vezes, movem-se por cálculo. E Mondlane é, indiscutivelmente, um actor com tino para o palco mediático”.
Ainda assim, nas ruas de Quelimane, o que importa agora é a vida de Joel Amaral. A população responde ao apelo com transferências via M-Pesa e e-Mola, e com palavras de força. Entre mensagens de apoio e manifestações espontâneas, começa a desenhar-se um símbolo, Amaral tornou-se o corpo que sangra a dor colectiva de um país onde a crítica custa caro, e a liberdade de expressão tem preço.
Importa recordar que, até ao fecho desta edição, o Governo ainda não havia assumido qualquer encargo financeiro com o tratamento do activista, e que as autoridades policiais permanecem mudas quanto à identidade dos autores do crime.
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