Quelimane– Um nova forma de resistência e protesto começou a desenhar-se na capital moral da democracia moçambicana. Venâncio Mondlane, anunciou esta segunda-feira (14) a realização de três dias de marchas ininterruptas na cidade de Quelimane. O baleamento de Joel Amaral é o motivo, conhecido como MC Trufafá — músico, activista e mobilizador político que sobreviveu a uma tentativa de assassinato na zona do Benedito, na tarde do Domingo de Ramos.
A medida, segundo Mondlane, é um grito colectivo contra a tentativa de institucionalização do medo e da violência política numa cidade que, nos últimos anos, tem sido exemplo nacional de vigilância democrática e cidadania activa. Quelimane não pode ser violentada com o silêncio. Este atentado é mais do que uma bala no corpo de Joel, é um projéctil dirigido contra a liberdade de expressão e a autonomia dos povos, declarou o político, visivelmente emocionado e combativo, em frente ao Hospital Central de Quelimane (HCQ), onde Joel permanece internado em cuidados intensivos.
A marcha, que teve início nas primeiras horas desta manhã, percorreu os principais bairros da cidade, numa coreografia humana de indignação, onde se ouviam vozes clamando pela justiça e responsabilização dos autores morais e materiais do atentado. Joel Amaral não é apenas mais um nome no rol das vítimas, ele foi a voz sonora e poética da resistência de Quelimane, símbolo de uma juventude que já não teme os tentáculos de um poder que, à falta de argumentos, recorre ao cano da arma.
A Capital que não se curva
Desde o pós-eleições de 2024, Quelimane tornou-se um território simbólico, uma cidade que recusou engolir os resultados da Comissão Nacional de Eleições (CNE), contestou nas ruas e, contra todas as probabilidades, devolveu o poder a Manuel de Araújo. Joel Amaral esteve no centro dessa mobilização. Foi ele quem, através da música e da mobilização de base, galvanizou consciências e corações.
Hoje, ao vê-lo ligado a aparelhos hospitalares, a cidade reage como quem vê um filho atacado em plena luz do dia. “A marcha é o mínimo que podemos fazer para manter viva a chama da resistência”, disse uma manifestante que empunhava uma t-shirt com o rosto do artista.
A ausência de resultados investigativos, o silêncio comprometido das autoridades centrais, e a lentidão da justiça reforçam a suspeita de que o atentado pode ter contornos políticos profundamente orquestrados. “Isto não é só sobre Quelimane. É sobre o futuro de Moçambique como espaço de liberdade”, observou um académico ouvido pelo Txopela.