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Quelimane em pé de marcha: população sai à rua em protesto contra o atentado a MC Trufafá

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População exige justiça e desafia o silêncio das autoridades. Analistas alertam: “um erro de cálculo pode incendiar a cidade.”

Quelimane – O mar de gente que neste momento percorre as ruas da capital da Zambézia não grita apenas por justiça. Grita também por respeito, dignidade e segurança. Quelimane, a cidade conhecida pela sua rebeldia cívica e espírito de resistência, saiu hoje à rua para protestar contra o atentado a Joel Amaral — MC Trufafá — artista, político e activista local baleado no último Domingo de Ramos.

A marcha, que começou de forma pacífica, está a ganhar contornos imprevisíveis. Testemunhas relatam que a mobilização popular tem crescido a cada minuto, com homens, mulheres e jovens a juntarem-se espontaneamente em várias artérias da cidade. Os cartazes improvisados exigem “Justiça já!”, “Quem mandou matar Trufafá?” e “Quelimane não tem medo!”.

“Terminou o longo sono. Quelimane despertou, e quando esta cidade acorda, não há contingente que a faça recuar”, afirmou um dos manifestantes ao Jornal Txopela, no meio da multidão que se dirigia em direcção ao centro da cidade.

O silêncio oficial sobre o ataque de domingo tem sido interpretado como cumplicidade ou, no mínimo, conivência. Nas ruas, ouve-se cada vez mais alto o termo “esquadrões da morte”, expressão que, até há poucos anos, parecia pertencer a um passado enterrado nas cinzas da guerra e da repressão. Hoje, volta a soar nos bairros de Quelimane como um aviso de que o medo voltou, mas também como uma recusa em aceitá-lo.

“Quem atirou em Trufafá quis matar muito mais do que um homem. Quis silenciar uma voz, uma geração, uma cidade. Mas nós respondemos com o grito”, disse uma manifestante, de punho erguido.

Analistas ouvidos pelo Txopela alertam que o atentado foi mais do que um acto isolado, foi um erro estratégico de cálculo político, num momento em que a população já vive em ebulição por causa do custo de vida insuportável, escassez de comida e desemprego endémico.

“É como acender um fósforo numa sala cheia de gás”, alerta um politólogo radicado em Quelimane. “A cidade já vivia sob pressão. Este episódio pode ser o rastilho para algo maior.”

Fontes locais alertam ainda para o risco de a marcha, ainda pacífica, descambar para situações mais graves como saques, destruição de património público e confronto com as autoridades. A presença policial é visível, mas recatada, talvez cientes de que uma intervenção agressiva seria jogar gasolina na fogueira.

Enquanto a recuperação de Joel Amaral sob vigilância médica segue , o seu nome e rosto tornaram-se símbolos de resistência e luta. Ironia do destino: um homem ferido à bala que agora lidera, mesmo em silêncio, um povo que já não aceita mais calar.


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