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Discurso de Chapo não salva o silêncio das balas

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Presidente repudia ataque a Joel Amaral, mas evita tocar no essencial: quem ordenou o crime?

Maputo / Quelimane — O Presidente da República, Daniel Francisco Chapo, veio a público neste domingo (13) repudiar o atentado à integridade física do músico e político Joel Amaral, também conhecido como MC Trufafa, baleado no Domingo de Ramos na cidade de Quelimane, num crime que carrega contornos de execução milimetricamente planeada.

Num comunicado cuidadosamente redigido e amplamente distribuído pelas plataformas institucionais, Chapo manifesta “profunda preocupação” com o ataque, sublinhando que se trata de uma “afronta à democracia” e aos princípios do Estado de Direito. Afirma ainda que “não podemos, nunca, permitir que exista lugar ao medo em Moçambique”.

As palavras, ainda que compostas com o verniz da diplomacia presidencial, pecam pelo vazio de acção. Num país onde a justiça se arrasta e os crimes de natureza política ou de expressão crítica raramente chegam a tribunal com culpados identificados, o discurso de Chapo é mais um ritual de ocasião do que a uma convocatória efectiva à responsabilização.

Joel Amaral, figura incómoda por natureza, tem utilizado a sua voz, no palco e na política, para denunciar as assimetrias sociais, o clientelismo institucional e os jogos de poder que alimentam o marasmo em Moçambique. O atentado contra a sua vida, realizado em plena luz do dia e com testemunhas a escassos metros, carrega o perfume agridoce da intimidação selectiva.

O silêncio ensurdecedor no comunicado presidencial recai sobre um detalhe que não passou despercebido: nenhuma palavra sobre a actuação das Forças de Defesa e Segurança, que o próprio Chapo comanda enquanto Chefe de Estado e Comandante-em-Chefe das Forças Armadas.

Não se ouviu uma única orientação directa para investigar o crime, nem tão-pouco uma menção aos órgãos de justiça para que, de facto, avancem com celeridade e transparência na responsabilização dos autores materiais e morais. O apelo à lei soa genérico e confortável, mais uma folha seca lançada ao vento do que uma pedra no charco.

Para muitos observadores, o gesto presidencial revela mais uma encenação de Estado do que um compromisso com a verdade. “É o tipo de comunicado que serve para constar nos arquivos. Lê-se bem, mas não se sente. E, pior, não protege ninguém”, comentou ao Txopela um jurista radicado em Quelimane.

Conquanto, Joel Amaral continua internado no Hospital Central de Quelimane, em estado estável mas sob vigilância. A sua recuperação física parece estar a caminho,  a moral e a segurança pública, essas, continuam em estado crítico.


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