Num momento em que a instabilidade em Cabo Delgado continua a desafiar as narrativas oficiais de “normalização” e o terrorismo se disfarça de silêncio estratégico, o Presidente Daniel Chapo recebeu, esta quinta-feira (10), a ministra da Defesa da Tanzânia, Stergomena Lawrence Tax, enviada especial da Presidente Samia Suluhu.
O encontro, descrito como “fraterno” pela Presidência, foi mais um exercício de diplomacia regional, recheado de discursos sobre paz e desenvolvimento, mas escasso em compromissos concretos visíveis à luz do dia.
Falando à imprensa no final da audiência, Stergomena Tax destacou que a sua missão tinha um mandato presidencial directo. “Vim enviada pela minha Presidente para reafirmar o nosso compromisso com Moçambique”, declarou. Palavras que reforçam uma retórica antiga de irmandade forjada nas trincheiras da luta anticolonial, mas que hoje se depara com novos campos de batalha — desta vez contra insurgências transfronteiriças e ameaças difusas.
A ministra tanzaniana fez questão de invocar os laços históricos entre os dois países, um gesto que mais simbólico do que funcional, tendo em conta os desafios prácticos colocados pela crescente tensão securitária na faixa norte, onde a colaboração entre Moçambique e Tanzânia é vital, mas nem sempre transparente.
Fontes militares regionais têm apontado para a existência de corredores logísticos que alimentam a insurgência a partir do lado tanzaniano da fronteira, uma questão delicada que raramente é abordada em público, mas que paira como sombra sobre qualquer encontro bilateral.
Durante a visita, Stergomena Tax reuniu-se também com o ministro moçambicano da Defesa, num encontro de cortesia que serviu, segundo a versão oficial, para “trocar ideias” e “identificar áreas de cooperação”. Entre as prioridades partilhadas, voltaram a surgir os chavões do costume: paz, segurança e desenvolvimento económico.
No entanto, à imprensa não foi dada qualquer indicação de acordos assinados, planos operacionais ou metas conjuntas. A retórica manteve-se no plano da intenção — boa para fotos, fraca para o terreno.
A visita da ministra decorre num contexto de esvaziamento das missões militares da SADC em Cabo Delgado e do regresso a uma lógica mais nacionalizada da resposta ao extremismo violento. Moçambique e Tanzânia continuam a ser, em teoria, parceiros-chave nesta frente, mas o nível de coordenação real permanece opaco. As estruturas da SADC, embora mencionadas, parecem neste momento mais decorativas do que determinantes.
Com este encontro, Chapo procura reforçar a sua imagem regional de estadista dialogante e colaborativo, ao mesmo tempo que projecta estabilidade num tabuleiro interno ainda volátil. A presença da ministra Tax pode servir de moeda simbólica para este esforço, mas resta saber se os discursos se traduzirão em acções tangíveis.
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