Numa altura em que os serviços de saúde continuam a sangrar entre a crónica escassez de profissionais, medicamentos e infraestruturas condignas, o Presidente da República, Daniel Chapo, reuniu-se esta quarta-feira (10) com o Director-geral do Africa CDC, Jean Kaseya, numa audiência tida como mais simbólica do que concreta — ainda que com promessas que podem ter impacto a médio prazo.
Kaseya, o rosto técnico da União Africana para assuntos de saúde, saiu do encontro com o Chefe de Estado em Maputo visivelmente entusiasmado. “Estou a trazer boas notícias para África e para o mundo sobre o compromisso do Presidente em aumentar o orçamento para a saúde em Moçambique”, disse sem revelar detalhes sobre percentagens ou marcos temporais.
Se por um lado, a retórica presidencial soa a música para os ouvidos de um sector há muito em estado de cuidados intensivos, por outro, as experiências anteriores recomendam prudência. No Orçamento de Estado de 2024, a alocação para a saúde pública ficou aquém dos 15% recomendados pela Declaração de Abuja, subscrita pelo próprio país.
A audiência com o dirigente do Africa CDC trouxe, um leque de promessas desde o apoio à criação de uma Escola de Saúde Pública em Moçambique, à intensificação da vigilância epidemiológica, passando pela cooperação com o Instituto Nacional de Estatística (INE) para melhorar os sistemas de recolha de dados em saúde. Objectivos louváveis, mas que exigem mais do que discursos.
Kaseya aproveitou ainda a ocasião para saudar Chapo pela estabilidade política alcançada, afirmando que tal clima tem sido fundamental para atrair fundos internacionais. “A paz que conseguiu estabelecer neste país está a atrair a atenção do mundo”, disse, numa leitura que parece ignorar os múltiplos focos de tensão pós-eleitoral e o silêncio oficial sobre casos de repressão a manifestações pacíficas.
Criado para responder a crises sanitárias como a COVID-19 e surtos de Ébola, o Africa CDC procura agora reposicionar-se como actor-chave no reforço dos sistemas de saúde no continente. A visita a Moçambique insere-se nesse esforço de reforço institucional e diplomático, procurando países aliados dispostos a adoptar agendas ambiciosas de reforma.
Jean Kaseya garantiu que o Africa CDC está empenhado em promover parcerias para a mobilização de recursos — uma declaração que, embora positiva, depende da articulação entre a vontade política interna e compromisso internacional efectivo.
Discover more from Jornal Txopela
Subscribe to get the latest posts sent to your email.