O Access Bank Mozambique associou-se, recentemente, às comemorações do Dia Mundial da Consciencialização sobre o Autismo, promovidas pela Associação Moçambicana de Autismo (AMA), numa cerimónia realizada no átrio do Conselho Municipal de Maputo, que contou com mais de 200 participantes. O gesto foi apresentado como um exemplo do compromisso do banco com a diversidade e a inclusão. Mas será que o gesto é tão altruísta quanto parece?
Sob o lema “Nossa Voz Importa, Autismo na Primeira Pessoa”, a actividade deu palco a experiências reais de pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Uma das vozes mais marcantes foi a de Hilton Machel, diagnosticado aos 33 anos, que fez uma intervenção carregada de verdade: “O diagnóstico foi a melhor coisa que me aconteceu porque comecei a aceitar-me e a fazer com que me aceitassem.”
Na plateia, para além de activistas e técnicos, estavam também os inevitáveis representantes do banco, incluindo Roberto Gonçalves, director de Risco Operacional e pai de uma criança autista, que aproveitou para ligar o lado pessoal ao corporativo: “É reconfortante perceber que instituições como o Access Bank abraçam iniciativas que beneficiam a sociedade.”
A cerimónia teve todos os ingredientes de um típico evento de Responsabilidade Social Corporativa desde discursos emotivos, camisetas azuis, fotos cuidadosamente tiradas para circular nos canais internos e externos do banco. Tudo envolto na promessa de que, desta vez, o compromisso com a causa vai além do simbolismo.
Para Chiwetalu Obikwelu, Administrador Delegado Interino do Access Bank, “a consciencialização sobre o autismo é uma das prioridades do Banco”. Declaração ousada vinda de uma instituição financeira que opera num país onde muitas escolas públicas não têm sequer professores preparados para lidar com alunos com necessidades especiais e onde os acessos para pessoas com deficiência continuam a ser, na maior parte, obstáculos físicos e sociais.
A Presidente da AMA, Nélia Macondzo, foi cautelosa no elogio, agradecendo ao banco pela parceria, mas deixando escapar uma frase que pode ser lida com várias camadas: “Sentimos que o Banco, ao apoiar-nos, não procura visibilidade.” Se o Banco não procura visibilidade, porque tanto holofote?
Enquanto os eventos continuam, com uma marcha agendada para o dia 26 de Abril na Beira, o pano de fundo desta história levanta uma pergunta legítima, quantos bancos em Moçambique, para além das sessões de fotos e discursos, estão realmente a empregar pessoas com TEA, ou a adaptar os seus serviços a clientes neurodivergentes?
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