Mais de 100 casas surgiram na zona do mangal de Sangariveira, em Quelimane. Uma área outrora reservada para pastagem de gado agora serve como base para habitações precárias e até grandes construções, tudo com direito a serviços de electricidade e água, fornecidos pela EDM e FIPAG. O que deveria ser uma área de proteção ambiental e risco elevado transformou-se em lar para centenas de famílias que buscam terrenos acessíveis.
Manguezal ou bairro?
Apesar de haver áreas apropriadas para construção, muitos optam pelos talhões baratos do mangal. Arsénio Betinho, morador desde 2012, admitiu ao Txopela que sabia dos riscos. “Paguei 35 mil meticais. Era o que dava para comprar. Sim, a casa fica submersa quando chove, mas seguimos aqui.” Noel João, vindo de Inhassunge, foi mais longe: “A água é salgada, não há tanto perigo.”
O relacto de quem vive o risco é marcado por resignação e desespero. “Estamos a sobreviver porque não temos para onde ir”, desabafou Noel. Milco Gonsalves, Chefe de Planificação e Monitoria do FIPAG em Quelimane, foi enfático: “Tecnicamente não cabe a nós decidir sobre zonas de risco. Fazemos estudos de viabilidade e, se a área é habitada, fornecemos os serviços.”
As declarações de Gonsalves revelam a falta de articulação entre os órgãos. Já a EDM, procurada pela reportagem, impediu a entrada do repórter e exigiu uma solicitação formal por escrito. No município, o gabinete do presidente Manuel de Araújo e do vereador de urbanização, Juvenal Símbine, estavam vazios, sem ninguém para dar explicações.
Durante as épocas chuvosas, os bairros como Novo, Micajune B, Janeiro, Torrone e Liberdade tornam-se uma sopa de esgoto e lixo, o que eleva os riscos de doenças e tragédias.
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