Por mais de uma década, a situação de falta de carteiras nas escolas estatais em Quelimane transformou-se num símbolo do abandono estrutural da educação pública. Centenas de crianças são obrigadas a sentar no chão e o governo segue com promessas vazias, alimentadas por desculpas repetitivas.
Apesar da Zambézia ser rica em exploração de madeira, os recursos não são usados para beneficio publico . A reportagem do Txopela visitou escolas como a Escola Básica Unidade Popular, onde a directora Latá Agostinho afirmou que algumas salas possuem apenas 5 a 10 carteiras para turmas de mais de 40 alunos. “Já estamos acostumados com as desculpas”, disse uma mãe que aguardava na porta da escola.
Eugénia Cassimo, directora da EP 3 de Fevereiro, sublinhou o mesmo discurso de resiliência forçada: “O ano lectivo começou bem, mas o problema das carteiras nunca foi resolvido.”
O porta-voz da Direcção Provincial de Educação e Cultura, Caunda Mutecumala, reconheceu o problema, mas trouxe a mesma lenga-lenga de todos os anos: “Há três anos, precisávamos de mais de 85 mil carteiras. Reduzimos para 35 mil no ano passado. Estamos a negociar com parceiros para adquirir mais carteiras.”Negociar? Quando os alunos aprendem no chão há mais de 10 anos? O cinismo das palavras só não é maior que o conformismo com o fracasso crônico.
Mutecumala prometeu a entrega de 4.500 carteiras este ano, mas quando e para quem? “Colocamos mais de 700 carteiras nas escolas secundárias de Lugela e Maganja da Costa”, afirmou. Lugela, uma escola longínqua, recebeu 500, e Maganja da Costa, 200. Enquanto isso, os alunos em Quelimane continuam com os cadernos sujos de poeira.
Além da falta de carteiras, outro fantasma assombra as escolas: o assédio sexual de alunas por parte de professores. Mutecumala fez menção ao problema, mas num tom quase burocrático: “Os professores devem mitigar essas situações.”
Discover more from Jornal Txopela
Subscribe to get the latest posts sent to your email.