Opinião de Zito do Rosário Ossumane
Tenho acompanhado ao detalhe e pormenor as propostas de governação dos candidatos presidenciais. É com a gravidade que o momento impõe e o respeito que me move pela pátria amada que me dirijo a Vossas Senhorias para enumerar, pela positiva, as principais ideias que me cativaram em cada um desses proponentes ao mais alto cargo da Nação.
O Daniel Chapo da Frelimo, embora a ideia originária seja de Manuel de Araújo, não posso deixar de louvar a inteligência em defendê-la com veemência. A proposta de mover o parlamento da nossa capital, Maputo, para o Município de Mocuba (Onde todos os caminhos se cruzam e Moçambique se abraça) é, sem sombra de dúvidas, uma proposta brilhante. Trata-se de uma medida que responde eficazmente a muitos dos problemas que assolam o nosso território, especialmente no que tange às assimetrias regionais que, infelizmente, ainda persistem. Uma tal decisão seria um passo concreto em prol da unidade nacional, trazendo consigo uma sensação de equilíbrio e participação a áreas até então marginalizadas.
O MDM através do seu candidato e presidente Lutero Simango parece-me ter uma clareza e visão sobre questões marginalizadas até agora nos discursos dos candidatos. Ele aborda o custo de vida e as dificuldades quotidianas que os cidadãos enfrentam, é algo que me impressiona profundamente. Falar em reduzir as taxas de água e energia, elementos essenciais à subsistência, é uma lufada de ar fresco no discurso político. Simango aparenta ver o que muitos não conseguem: a realidade que o cidadão comum vive. Não se trata de ilusões, mas de uma análise criteriosa do sufoco que paira sobre a maioria das famílias moçambicanas. Propõe-se de forma genuína com o bem-estar dos seus compatriotas.
Ossufo Momade, até hoje o líder da oposição em Moçambique esteve na Zambézia de onde vos escrevo neste momento, ouvi a sua ideia da criação de um banco agrário, é um tiro certeiro, uma daquelas medidas que, à partida, traz esperança. Mas, como bem sabemos, o estabelecimento de um banco, por si só, não resolverá todas as questões. O desenvolvimento do sector agrícola exige um esforço concertado, um sistema que funcione em todas as suas etapas. Não basta abrir crédito ao agricultor; é preciso que todo o ecossistema da produção agrícola seja eficiente, desde a preparação da terra até à comercialização dos produtos.
Venâncio Mondlane tem compreensão clara de como o Estado moçambicano funciona. Não é homem de reformas brandas, e sim de uma revolução profunda. Tem ideias claras, mas o que me chama atenção é a sua audácia em propor mudanças estruturais que, à partida, podem parecer radicais, mas que, bem analisadas, são, de facto, o que o país necessita para sair do marasmo em que se encontra.
Conquanto, algo me inquieta e me faz franzir o sobrolho. Estranhamente, não vi nenhum deles a tocar na ferida que, a meu ver, mais tem feito regredir Moçambique em termos de confiança e investimento privado: os raptos. São incontáveis os episódios que marcaram tragicamente a nossa história recente, abalou profundamente a segurança e o tecido social. Pergunto-me, por que razão esta questão é tão habilmente evitada? Será que não perceberam a gravidade da situação?
Onde está o investimento na inteligência policial? Coitados dos nossos bravos agentes do Serviço Nacional de Investigação Criminal, que lutam diariamente sem os meios necessários para enfrentar estas redes criminosas. O combate é feito no terreno, com homens e mulheres devidamente equipados, com tecnologia e informação para decifrar os complexos esquemas por detrás destes raptos que tanto medo e insegurança trouxeram ao país.
Fico, assim, com a dúvida que muitos partilham, mas poucos ousam vocalizar: será que estamos a fazer o suficiente para garantir que Moçambique seja um território seguro, onde os nossos filhos possam crescer sem o medo constante da violência? Sobre isso, deixo-vos com a reflexão e, por agora, calo-me.